por entre a turba que vem descendo a rua
ali, além ou mais à frente.
Talvez nem sejas tu
mas apenas a tua sombra
ou um perfume de ti
ou talvez nem gente
ou talvez apenas o estéril desejo
de te ter assim etereamente.
"Abriu uma mão, depois outra, estavam ainda vazias, a pescaria rendeu pouco afinal, anos a fio de mão vazias segurando o nada pelas pontas."

sistem em acompanhar-me pela rua, em parar comigo nas mesmas montras, entrar comigo nas mesmas lojas, enfim – não me largam. Em férias, se fora de casa, o problema agrava-se. Quase sempre partilhando o hotel, o quarto, todas as refeições, a praia, a piscina, enfim, quase tudo – a privacidade fica reduzida a pequenos lampejos como seja um curto passeio a pé na redondeza, o momento em que se vai comprar o jornal ou os minutos de ir fazer xixi no quarto do hotel e, ainda assim, às vezes calha de alguém da pandilha ter a ideia abstrusa de nos acompanhar nessas idas por vontade semelhante seja a fisiológica seja a de comprar o jornal ou tomar café no bar em frente ao hotel.
a, silêncio, pausa, mesmo quando falavas, mesmo quando te sentavas ao piano e interpretavas uma peça qualquer cujo nome e autor eu nunca sabia identificar
bamar Ferreira, traz-me à ideia um dos meus poetas de estimação, seu homónimo, o José Gomes Ferreira – poeta do espanto e da exclamação dos dias, sempre com olhos a arregalar-se de tanta espantação. Daí que, por gostar do Gullar, tenha ficado muito contente quando lhe atribuíram o prémio Camões deste ano e, desde então, à conta disso, tenho andado a ler uma ou outra entrevista que com ele vão saindo em jornais e revistas, como aconteceu hoje no mais recente número do Jornal de Letras.
to e tem um aspecto peculiar porque embora a idade e a magreza, feita de ossos compridos e estreitos, o rosto esquálido ornado de um cabelo quase pelos ombros de uma alvura imaculada, pudessem dar-lhe um ar frágil na verdade quando olho as suas fotografias comparo-o a uma velha árvore, de tronco longo e estreito, um negrilho como o do Torga, pelo Inverno e já sem folhas mas com um ar firme de resistir a todas as tempestades.Crónica Para Uma Cidade Inventada
Nesta cidade não se inventa nada, nem os teus olhos, ou o seu lugar, pousado nas mesas do café, nos rabos das garotas que passam, nos sinos das torres ou nos telhados, nem os teus olhos. Nem outros olhos tão iguais aos teus que quase podiam ser eles – os teus olhos – ali, a olhar para mim. Mas não. Não há invenção nos dias desta cidade, os inventores fugiram todos para Marte (ou para a morte?) tomaram a carreira, o comboio, o avião! Como se foge para Marte? É de avião, não é? (E para a morte? De subterrâneo?)
Nesta cidade não se inventa nada, está tudo inventado, compra-se tudo feito, o produto acabado, mesmo que mal. Mal acabado, digo. Que digo eu, que não sei o que digo? É de foguetão – para Marte o foguetão! (E para a morte? O avião?).
Nesta cidade não se inventa nada, esta cidade já está inventada, só lhe resta a Torre, já perdeu a espada. Está feita uma Colombina meia aparvalhada, esta cidade que está sentada… na esplanada, está cansada. Cansada de esperar por ti, ou pelos teus olhos, ou por aqueles outros olhos que não sendo os teus olhos são tão como eles que bem podiam ser eles – os teus olhos – ali, a olhar por mim.
Nesta cidade não se inventa nada. Os teus olhos eram nela a última invenção e… não há invenção nos dias desta cidade. Os inventores fugiram todos para Marte (ou para a morte?). Uns foram para Marte de Vai-vem espacial (e outros para a morte de… funeral).
Está um homem com o tronco curvado sobre a mesa, na mesma mesa onde antes esperei por ti.
Provavelmente o mar resiste nos meus olhos
Vista da minha esplanada: Três alminhas penadas cruzam repetidamente a rua com cartazes prometendo abraços grátis, com a respectiva tradução em inglês (nestas coisas há que ser internacional). Já vi, por diversas vezes, estas ou outras criaturas oferecendo o gratuito amplexo e sempre essa ideia me deixa um íntimo amargor tal qual como quando me cruzo com a velhice e o ranço estampados em tantos rostos, quase sempre de olhares vazios, certamente muito precisando de um abraço não este, esbanjado por tolice e juventude, mas um que apertasse até ao fundo da alma e lavasse com ele o musgo das lágrimas.
udou de nome, vazio, defunto, fechado até novas aulas. É uma da tarde. O “Pires de Lima”, construção maciça e feia de cimento armado em vários blocos, fechadíssimo para férias, nem vivalma. Mais abaixo o “Raínha”, meu velho liceu. Olho-o do outro lado da rua. Deixou de ser escola, é DREN. Pergunto-me a serventia agora de um pavilhão com ginásio, com mais do que uma sala, balneários, os laboratórios e anfiteatros de física, química e biologia, que uso lhes estará destinado, uma escola construída de raiz para o ser… Talvez essas zonas sejam agora uma montureira de papéis, como o jardim o é de silvas? Haverá funcionários para esgotar tanto espaço, tanta sala de aulas? Ou será este edifício como um enorme navio fantasma de ventre inchado mas vazio? Nunca lá entrei. A porta envidraçada foi reformulada, tem ar de repartição modernaça. A estátua da Raínha Santa que centrava o átrio, com flores no regaço (e onde alguém por vezes depositava rosas verdadeiras numa pequena jarra) desapareceu. A Raínha tem como dia litúrgico o mesmo do meu aniversário, era uma coincidência que me divertia – são rosas, senhor, são rosas – e agora o que são? E onde estão as rosas? O que diria disto o Rei Poeta D. Deniz? Abaixo ainda o “Raínha velho” que agora é Comando da PSP, suponho que melhor serviria à Polícia o ginásio e o espaço aberto, enfim, mas ei-los no velho edifício por fora muito pintado. Por dentro não conheço agora, mas aposto que a velha escada ainda range e num certo degrau – clack. Há este aspecto romântico e português que faz lembrar cenário de filmes – a polícia numa velha casa de tipo senhorial com escadas em madeira que rangem.
grafia, ora mais cinzenta ora mais colorida, ora mais de perto, ora mais ao longe.
A quem buscas
...estão neste momento a residir aqui...
Feira do Livro do Porto, Av. Aliados, stand A05 - Clube Literário do Porto

e te acende a cada instante.
O teu corpo vai pelas ruas,
Este poema nunca ficou "direito", ando há anos a escrevê-lo mas não vai lá das pernas... estou prestes a desistir dele e, como tal, deixo-o aqui mesmo "perneta".

Eu também gostaria de contar aqui, neste blog, como foi o debate sobre "Eros & Thanatos - o Amor e a Morte na Poesia" - no qual tive o gosto de participar, com o Rui Almeida como interlocutor e com a Celeste Pereira a moderar...
no esteio de um tempo de todos os silêncios.
Um gato em Janeiro
Eras tu quem primeiro anunciava
o silêncio na casa,
levantavas o corpo, arqueando-o
e descias a escada,
acudindo ao sol, que te murchava no colo
seu derradeiro laivo insidioso.
Às vezes
confundia-se o gelo verde dos teus olhos
com a luz de um semáforo
aberto e livre
ao Invernoso cio da cidade.

Assístolia
Se encostasse o ouvido,
podia escutar o silêncio,
lentamente,
escorrendo pelas paredes .
Se parasse o ruidoso tropel
do coração (enquanto encostava o ouvido)
podia ouvir a música,
brotando dentro do silêncio.
Só era preciso suster a respiração…
e… parar,
subitamente,
o bater do coração.
Sós.gif)