quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Sobre o que o tempo nos faz

Quando eu te conheci não usavas relógio

Quando eu te conheci não usavas relógio.
Rasgavas o tempo com as pontas dos dedos
como se rasgasses desejos,
ou murmúrios
ou medos…

Quando eu te conheci não usavas relógio.
O tempo adormecia-te nas mãos
e as mãos percorriam o marfim
no esteio de um tempo de todos os silêncios.

Quando eu te conheci
o tempo soprava-te no rosto,
a afagar-te as rugas e as imperfeições,
a beijar-te nos olhos a dor
de todos os cansaços,
o peso no peito
de todas as aflições.

Agora prende-se ao teu pulso
o burburinho das horas,
um ataque de ponteiros
na engrenagem dos segundos,
como se o teu tempo
coubesse fechado
no espaço redondo
de um vidro quadrado

Quando eu te conheci não usavas relógio.

Então agora diz-me…

Que horas são?
Na tua confusão de silêncios e demoras
que horas são em ti,
agora que é em ti
que se prendem as horas?

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Créditos devidos

Por incorrecção minha a imagem apresentada no post anterior não apresentava nem título nem autor. Aqui vai a correcta identificação com os meus pedidos de desculpa.

Girl before a mirror - P. R. Picasso

domingo, fevereiro 14, 2010

Happy Valentine

A propósito do dia de S. Valentim como propósito de falar sobre ele… o AMOR


Que pode uma criatura senão
entre outras criaturas AMAR?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
Sempre e até de olhos vidrados AMAR?

Carlos Drummond de Andrade

sábado, fevereiro 13, 2010

Só à noite os gatos são pardos

“Só à noite os gatos são pardos” é uma antologia de textos inéditos de autores contemporâneos organizada por Jorge Velhote e Patrícia Pereira e prefaciado por Sara Canelhas. Este livro foi editado pelo "Cantinho do Tareco - Associação de Protecção Animal e pretende angariar fundos para acarinhar mais alguns tarecos.

Participam:

A.Dassilva O., Alexandra Malheiro, Amadeu Baptista, Ana Luísa Amaral, António Barbedo, António Ferra, António José Queirós, Aurelino Costa, Bruno Bréu, Carlos Lizán, Carlos Poças Falcão, Cristina Carvalho, Diogo Alcoforado, Fernando de Castro Branco, Fernando Eschevarría, Francisco Duarte Mangas, Gabriel Mário Dia, Henrique Manuel Bento Fialho, Inês Lourenço, Isabel Cristina Pires, João Manuel Ribeiro, Jorge Velhote, José Álvaro Afonso, José Emílio-Nelson, José Leon Machado, José Miguel Braga, José Viale Moutinho, Luís Filipe Cristóvão, Luísa Ribeiro, Maria do Carmo Serén, Mário Anacleto, Nuno Dempster, Renato Roque, Rosa Alice Branco, Rui Amaral Mendes, Rui Lage, Sara Canelhas, Soledade Santos, Tiago Worth Nicolau, Teresa Tudela, Vergílio Alberto Vieira, Victor Vicente, Vítor Oliveira Jorge.



A minha contribuição:


Um gato em Janeiro

Eras tu quem primeiro anunciava
o silêncio na casa,
levantavas o corpo, arqueando-o
e descias a escada,
acudindo ao sol, que te murchava no colo
seu derradeiro laivo insidioso.

Às vezes
confundia-se o gelo verde dos teus olhos
com a luz de um semáforo
aberto e livre
ao Invernoso cio da cidade.

domingo, fevereiro 07, 2010

Divina Música - Assístolia

Recebi hoje o livro Divina Música – Antologia de Poesia sobre Música – edição comemorativa do 25º aniversário do Conservatório Regional de Música de Viseu Dr. José Azeredo Perdigão – selecção e organização da responsabilidade do Poeta Amadeu Baptista, a quem agradeço o convite para nela participar.

Desta antologia fazem parte poemas dos seguintes autores:

Adalberto Alves, Affonso Romano de Sant’Ana, Albano Martins, Alexandra Malheiro, Alexandre Vargas, Alexei Bueno, Amadeu Baptista, Ana Hatherly, Ana Luísa Amaral, Ana Mafalda Leite, Ana Marques Gastão, Ana Salomé, Ana Sousa, António Brasileiro, António Cabrita, António Cândido Franco, António Ferra, António Gregório, António José Queirós, António Osório, António Rebordão Navarro, António Salvado, Artur Aleixo, Bruno Béu, C. Ronald, Camilo Mota, Carlos Felipe Moisés, Carlos Garcia de Castro, Casimiro de Brito, Cláudio Daniel, Cristina Carvalho, Daniel Abrunheiro, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Danny Spínola, Davi Reis, Donizete Galvão, E.M. de Melo e Castro, Edimilson de Almeida Pereira, Eduardo Bettencourt Pinto, Eduíno de Jesus, Ernesto Rodrigues, Eunice Arruda, Fernando de Castro Branco, Fernando Echevarría, Fernando Esteves Pinto, Fernando Fábio Fiorese Furtado, Fernando Grade, Fernando Guimarães, Fernando Pinto do Amaral, Francisco Curate, Gonçalo Salvado, Graça Magalhães, Graça Pires, Henrique Manuel Bento Fialho, Hugo Milhanas Machado, Iacyr Anderson Freitas, Inês Lourenço, Isabel Cristina Pires, Jaime Rocha, Joaquim Cardoso Dias, João Aparício, João Camilo, João Candeias, João Manuel Ribeiro, João Moita, João Rasteiro, João Rios, João Rui de Sousa, João Tala, Joaquim Feio, Jorge Arrimar, Jorge Reis-Sá, Jorge Velhote, José Agostinho Baptista, José Carlos Barros, José do Carmo Francisco, José Luís Mendonça, José Luís Peixoto, José Manuel Vasconcelos, José Mário Silva, José Miguel Silva, José Tolentino de Mendonça, Júlio Polidoro, Levi Condinho, Luís Amorim de Sousa, Luís Filipe Cristóvão, Luís Quintais, Luís Soares Barbosa, manuel a. domingos, Margarida Vale de Gato, Maria Andersen, Maria Estela Guedes, Maria João Reynaud, Maria Teresa Horta, Miguel-Manso, Miguel Martins, Myriam Jubilot de Carvalho, Nicolau Saião, Nuno Dempster, Nuno Júdice, Nuno Rebocho, Ondjaki, Ozias Filho, Patrícia Tenório, Paula Cristina Costa, Paulo Ramalho, Paulo Tavares, Prisca Agustoni, Risoleta Pinto Pedro, Roberval Alves Pereira, Rosa Alice Branco, Rui Almeida, Rui Caeiro, Rui Coias, Rui Costa, Ruy Ventura, Sara Canelhas, Soledade Santos, Teresa Tudela, Torquato da Luz, Urbano Bettencourt, Vasco Graça Moura, Vera Lúcia de Oliveira, Vergílio Alberto Vieira, Victor Oliveira Mateus, Virgílio de Lemos, Vítor Nogueira, Vítor Oliveira Jorge, Yvette K. Centeno, Zetho Cunha Gonçalves.



A minha contribuição …

Assístolia


Se encostasse o ouvido,
podia escutar o silêncio,
lentamente,
escorrendo pelas paredes .

Se parasse o ruidoso tropel
do coração (enquanto encostava o ouvido)
podia ouvir a música,
brotando dentro do silêncio.

Só era preciso suster a respiração…
e… parar,
subitamente,

o bater do coração.