Dia Mundial da Música
É impossível pensar a música sem te pensar a ti, tu que eras todo música por dentro quando eu te conheci, um lume de música a arder-te nos braços, mesmo quando eras só silêncio. Às vezes dava contigo
(eu costumava entrar devagar pela tua retaguarda)
(eu costumava entrar devagar pela tua retaguarda)
de braços erguidos, as mãos acima do nível dos ombros a conduzir uma orquestra imaginária, o horizonte
(o meu, que era o de quem entrava devagar pela tua retaguarda)
começava acima da linha larga desenhada pelos teus ombros e eu , a esse tempo, gostava que o meu horizonte começasse sobre a linha larga dos teus ombros. Era num ombro que te tocava, para acordar-te dessa viagem imaginária pela música da orquestra dentro de ti. Acordavas como resposta ao meu toque mas nos teus olhos a música continuava sempre, incessante e infinita, tudo dentro dos teus olhos.
É impossível pensar a música sem te pensar a ti, tu todo silêncios e pausas, quando eu te conheci, pausa, silêncio, pausa, silêncio, pausa, mesmo quando falavas, mesmo quando te sentavas ao piano e interpretavas uma peça qualquer cujo nome e autor eu nunca sabia identificar
(nunca fui muito boa a identificar peças, bastava-me identificar-te a ti ao piano, podias ser um entre mil, sempre te identificaria, as costas direitas, o corpo retesado, o peito aberto e aquele balançar pendular em ângulo de 20º)
É impossível pensar a música sem te pensar a ti, tu todo silêncios e pausas, quando eu te conheci, pausa, silêncio, pausa, silêncio, pausa, mesmo quando falavas, mesmo quando te sentavas ao piano e interpretavas uma peça qualquer cujo nome e autor eu nunca sabia identificar
(nunca fui muito boa a identificar peças, bastava-me identificar-te a ti ao piano, podias ser um entre mil, sempre te identificaria, as costas direitas, o corpo retesado, o peito aberto e aquele balançar pendular em ângulo de 20º)
mesmo aí eras silêncios e pausas mais do que qualquer outro som percutido no piano.
É impossível pensar a música sem te pensar a ti, impossível! Ao pensar a música penso o mesmo que pensar-te, o piano no canto da sala, um ou dois violinos, uma viola, um violoncelo, nos dias bons um contra-baixo, um clarinete, um saxofone-alto, uma tuba
(lembras-te da tuba que inventaste naquela canção? Já não importa, ainda que não te lembres, a tuba apodreceu-te na ideia, ninguém a pôs em prática, mas eu registei, ficou em mim a tuba a tocar-me por dentro, aquele som gutural e fundo),
É impossível pensar a música sem te pensar a ti, impossível! Ao pensar a música penso o mesmo que pensar-te, o piano no canto da sala, um ou dois violinos, uma viola, um violoncelo, nos dias bons um contra-baixo, um clarinete, um saxofone-alto, uma tuba
(lembras-te da tuba que inventaste naquela canção? Já não importa, ainda que não te lembres, a tuba apodreceu-te na ideia, ninguém a pôs em prática, mas eu registei, ficou em mim a tuba a tocar-me por dentro, aquele som gutural e fundo),
um xilofone, um espanta-espíritos a sacudir-se no vento como quando tu vinhas também a sacudir o vento dos meus dias.
É impossível pensar a música sem te pensar a ti, impossível! Por isso não me peçam para pensar a música.
É impossível pensar a música sem te pensar a ti, impossível! Por isso não me peçam para pensar a música.
1 comentário:
GREAT!
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