quinta-feira, abril 30, 2009

Música às Palavras, Palavras à Música!


Neste Domingo, dia 3, vou estar à conversa, no Clube Literário do Porto, pelas 17H00, com o compositor Rui Soares da Costa, falando sobre que música têm as palavras. Rui Soares da Costa tem-se notabilizado compondo sobre poemas de vários autores clássicos, nomeadamente Garrett, Florbela Espanca, Camões e Pessoa. Mais recentemente musicou a bela Aurora Boreal de António Gedeão e três poemas meus.
O pianista José Maria Parra e a soprano Cecília Fontes irão interpretar essas mesmas obras, após uma performance poética multimédia.
Em suma, será uma festa com muita poesia, música e paleio.
Venha fazer parte da festa e ajudar a descobrir que música há nas palavras e que palavras para a música! Venha conversar connosco.

sábado, abril 25, 2009

"Loving you's a dirty job..."

Hoje vou guardar a tua voz
dentro do silêncio.
A Natureza e o caos
resumidos aos teus olhos
como a violência da chuva
adormecendo os vidros da janela,
ainda entreaberta,
ao rumorejar do mundo
lá fora.

terça-feira, abril 21, 2009

A um tempo de silêncio interior

Num assomo de espantos
percorri , por dentro, o teu corpo,
imagem trans-iluminada,
luz transparente e cálida a
escrutinar-te o ventre.

(rumores que serias tu por dentro,
mais por dentro do que os outros viam)

Nele tracei bissectrizes
e meridianos de
hipotransparências sonolucentes,
viagem contínua ao teu espaço interior.

Imagem crível das sombrias virtudes
cobertas, pudendas,
de pele e silêncio.

quinta-feira, abril 16, 2009

Se perguntarem por mim

Se perguntarem por mim
diz que não estou,
diz que parti com a brisa
numa estrada curva
para um lugar incerto
junto ao precipício.

Se perguntarem por mim
diz que eu parti,
que sulquei estradas,
vales e montanhas
até me perder
num lugar de espanto.

Se perguntarem por mim
diz que eu me fui
que rumei serena pela madrugada
procurando rios, navegando mares,
abraçada ao fogo,
junto à tempestade.

Se perguntarem por mim
diz que não me viste
desde a eternidade
em que na manhã
se incendiou a tarde.

Se perguntarem por mim
diz que eu fugi,
que errei sozinha,
frente à tempestade
sem achar caminho
de volta à cidade.

Se perguntarem por mim
diz que eu morri,
diz que me fiz pó
e cinza no mar
e que o meu sangue é chuva
que não há-de tardar.

terça-feira, abril 14, 2009

Rumo ao incêndio, rumo ao incêndio...

Bem-haja a quem me leva por aí.

segunda-feira, abril 13, 2009

"Voices inside my head"

There's something missing inside my head...


sábado, abril 11, 2009

All about birds

Tomei-me hoje de amores, ao fim da tarde, por um passarito, um pardalito, redondinho e doce pousado num ramo do meu limoeiro. Fiquei-me a mirá-lo, quase sem me mexer. Apeteceu-me apertar aquele tufinho de penas, sentir o seu coraçãozito passarando-me entre as mãos, por momentos senti a angústia de quem quer abraçar sem conseguir, mas não me movi. Sabia, como sei, que se me mexesse, me aproximasse, se estendesse a mão, de imediato a pequena ave se afastaria levantando voo. Fiquei por isso, olhos fitos, a vê-lo pipilar e a imaginar nas mãos a maciez das penas.



Assim são os pássaros, não há como amá-lo senão na distância silenciosa de uma nuvem.

terça-feira, abril 07, 2009

Pautas...

Gosto de olhar para pautas de música. Sinto um irreprimível fascínio por elas. Não as entendo, são uma língua estrangeira da qual tenho conhecimentos mínimos, muito mínimos, trazidos da escola preparatória. Sobretudo não as sei ler. Olhá-las é como ver letras de abecedário cirílico, não as sei juntar.
Há algum tempo atrás, como quem acompanha este blog sabe, o compositor Rui Soares da Costa fez três músicas a “ilustrar” poemas meus, nessa altura enviou-me as pautas, um lindo livrinho que imprimi e encadernei cheia de ternura, como se fosse coisa minha. Olhava-as e nada percebia mas ainda assim agradava-me o seu desenho, é uma coisa sensual aquelas bolinhas brancas e pretas em cinco linhas, ora a subir, ora a descer com frases catitas em italiano piano-forte-alegro-ma-non-troppo, etc.
Assim foi durante pelo menos um mês. Não tinha a quem as mostrar que me dissesse se eram boas ou más, que mas tocasse ao piano ou sequer mas cantarolasse e isso angustiava-me mas ainda assim guardei-as como coisa minha. Algum tempo mais tarde o mesmo compositor cedeu-me uma maqueta fanhosa, gravada de computador, com um piano sintetizado e um instrumento semelhando uma flauta a fazer as vezes da voz e eu logo me muni das pautas para acompanhar as músicas e as perceber. Por terem o texto foi-me relativamente fácil segui-las [e ao ouvi-las, há bem pouco tempo por sinal, ao vivo e a cores com um piano a sério e uma cantora de pele e osso (será voz e osso? pele e voz?) percebi que andei bem perto de as perceber e isso agradou-me] foi como se tivesse conseguido ler essa língua estrangeira. Andei algum tempo com essas pautas atrás de mim, levava-as para onde fosse e sorrateiramente espreitava-as, como se um novo poema tivesse nascido dos meus poemas, um poema que eu não sabia ler, ansiava encontrar alguém que entendesse aquela linguagem e a desvendasse, espécie de feiticeiro que possuísse a chave daquele mistério do qual eu agora inadvertidamente era parte também.

sábado, abril 04, 2009

Há demasiadas esquinas na memória desta cidade

"Oh no, it's raining again
Too bad I'm losing a friend.
Oh no, it's raining again
Oh, will my heart never mend?

You're old enough some people say
To read the signs and walk away.
It's only time that heals the pain
And makes the sun come out again."

by
Supertramp


Quando voltares,
de novo,
aos escombros do silêncio,
lembra-te:
- Eu estarei lá,
mas talvez tu
já não me encontres,
talvez já não me reconheças
nem me aches
na sombra do silêncio que antes fomos.

Quando, de novo,
o vento te assolar
e te secar a pele
e de novo te deitares
na palha dura
e o céu se fizer tecto
dos teus medos

De novo me hás-de procurar
- E eu estarei lá,
mas talvez já não me reconheças
na treva que o tempo fez nascer entre nós


quinta-feira, abril 02, 2009

Music was my first love (II)

Desde o momento em que tornei públicas (algumas d)as coisas que escrevo, com a edição de livros, passei ocasionalmente – sobretudo no seguimento de uma edição recente – a ser abordada pela pergunta “então e para quando um novo livro?” – o que, na verdade, quase sempre me parece pergunta de quem não lendo o anterior se compraz em ter assunto de conversa mostrando muito interesse em “ciência” que desconhecem. Claro que, talvez, esta minha sensação seja enganosa, muitas vezes será demonstração de real interesse por parte de quem me interroga e eventualmente até vontade de me ler mais.
Outra pergunta frequente é “tens escrito?” – como se os poemas nascessem nas árvores ou assim, penso – respondo quase sempre “…pouco…” e é verdade, escrevo sempre tão pouco, tão muito menos do que gostaria e quase sempre tão mal, tão muito pior do que ambiciono…
E, na verdade, os poemas nascem nas árvores e andam por aí aos pontapés, eles estão lá, nos sítios já quase prontos a colher eu é que tardo a encontrá-los, como sempre na vida tardo, tardo, tardo…


…e “é já tão tarde esta noite”…


Pesam-me os olhos,
as mãos,
o corpo todo,
pesas-me tu e a dor
do amanhecer sem ti,
o cheiro que é ainda o teu
ao acordar,
os teus braços que não sinto
ao redor de mim mas
que me fazem falta
para chorar.
É já tão tarde esta noite
e a paz que pedi
tarda tanto em chegar.
Lá fora a lua desce
entre as árvores,
redonda e gorda
a iluminar as almas.
Fecho então os olhos
na impertinência de não ver
mais do que a luz
que não sei achar em mim.
Fere-me a vista este luar e


...É já tão tarde esta noite