segunda-feira, abril 18, 2011

Crónica de Segunda - "Gostar de ti – uma questão de orgulho"

Gostar de ti não é coisa de que me orgulhe particularmente. Não que não me orgulhe de ti, o que é uma coisa totalmente diferente, mas esse orgulho que sinto vem de ti, daquilo que és, do que representas, da forma como te afirmas é, ao fim e ao cabo, o orgulho de tudo aquilo que me faz gostar de ti, porém não é o acto de gostar de ti que me orgulha. De resto de ti orgulho-me muito, chego a orgulhar-me até da proximidade de ti, da tua amizade, das coisas que juntos chegamos a partilhar, mas não me orgulho do amor tamanho que te tenho. O amor, o gostar-se de alguma coisa ou de alguém, apesar de ser o grande motor de tudo e o mais belo de todos os sentimentos, não é razão de orgulho. Nasce espontâneo, não é planeado, não dá trabalho ao nascer, não exige esforço, não é sequer pensado e apenas resulta num imenso sofrimento, a imensa dor dos que amam. O amor vive condenado a ser expiado em angústia, a angústia da perda, a angústia de não ter, a angústia de não ser, a angústia da ausência e do esquecimento e finalmente a angústia da morte. São tantas as dores que acompanham o amor que ninguém pode orgulhar-se de o sentir, ainda que lhe dê gozo, ainda que nos intervalos da dor seja prazer.

É, enfim, por tudo isto que não me orgulho particularmente de gostar assim de ti. Mas gosto.

segunda-feira, abril 11, 2011

Crónica de Segunda - Os contorcionistas

A política portuguesa parece estar num histórico momento de absurdo e contorcionismo, ganha quem mais se torce e retorce, quem melhor diz uma coisa e o seu contrário e preferencialmente num tão curto espaço de tempo que chegue a confundir os portugueses, seus presumíveis eleitores, que ou andam de olho no Facebook e nos media de hora a hora ou nem chegam a conhecer metade das asserções dos putativos candidatos. O contorcionismo, as incongruências e o constante desdizer estende-se por todo o espectro político desde a direita à esquerda. Dir-me-ão que nada disso é novo e que a mentira e a flexibilidade a tender para o excesso sempre fez parte da política e que sem elas todo o político vive mal. Até poderei concordar mas nunca em tão pouco tempo e a cruzar todos os quadrantes políticos vi tanta mentira ser atirada aos olhos do povo sem ser seguida, pelo menos, de um período refractário para deixar assimilar e esquecer cada uma dessas não-verdades ou promessas a não cumprir.


Depois dos sucessivos PECs que seriam sempre os derradeiros, ao “não governo com o FMI”, “vamos chamar o FMI” até ao “este PEC foi longe demais”, “este PEC não foi suficientemente longe”, ao vamos subir o IVA, se calhar não vamos subir o IVA, enfim, os exemplos são tantos que são inenarráveis. Eis-nos então premiados com último grito na febre louca dos opostos: Fernando Nobre que nas presidenciais vimos vestido de espécie de cavaleiro andante dos pobres e desvalidos, asseverando ser o candidato vindo do além, que é como quem diz, de fora dos partidos, chamando-se “da cidadania” como se todas as restantes candidaturas o não fossem, apelando ao voto dos descontentes com os partido, professando ideias aparentemente de esquerda moderada e que, mais difícil ainda, há cerca de um mês dizia redondamente, de viva voz que não obstante o namoro aparente de vários partidos nunca se uniria a um deles, após pirueta e salto mortal, é agora cabeça de lista pelo neoliberal PSD de Passos Coelho, a troco de um cargo digno da sua vaidade – a presidência da Assembleia da República. Este cargo, habitualmente atribuído a alguém mais velho e com larga experiência na mesma Assembleia, está agora prometido a este virginal candidato que não podendo ser supra partidário se contentará com ser supra-deputados. Imaginação e muita lata parecem ser os predicados para se fazer política neste país, visto desta forma tenhamos esperança, inventivos como somos temos futuro garantido!

segunda-feira, abril 04, 2011