terça-feira, novembro 25, 2008

Antes do abismo

Despedimo-nos

como uma rua de sombras,
rodando o corpo no chão,
perdendo o avesso da pele
em ilusões de infinitos,
perfumes de memória
trocados pelos dedos.

Segura-me em ti antes
que eu te morra,
ampara-me nos braços
contra a atracção do abismo.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Entangled

Entre os meus dedos

Entre os meus dedos
mais uma vez
foram perdidos os teus dedos
entre os meus
do frio que trazias neste dia
da calma com que tanto eu te queria

entre os meus dedos…

Quantas vezes te perdi toda esta tarde,
nas sombras que guardei dentro do peito,
corpo de lágrimas por fora tão perfeito,
fingindo-te o sorriso mas nos dedos
só nos dedos em ti o abraço estreito.

Quantas vezes nossos dedos outra vez,
prendendo-se e eu perdendo-te de novo,
quantas vezes os teus olhos
dedos presos,
fugindo como um pássaro ou um lobo.

sábado, novembro 15, 2008

A uma cápsula anti-pirética


No seu blog - Estado Civil - no post de 13 deste mês, Pedro Mexia incitava à escrita de um elogio à cápsula. Fiz-lhe a vontade.



Nas minhas mãos ardendo
o teu corpo inteiro,
lânguido
límpido,
lúcido,
gelatinoso.
Tomo-te na língua,
a oferecer-te esta humidade que te embala,
até te deixares tragar pelo mais fundo de mim.

Agora que te abraço nas entranhas
hás-de fazer fugir-me a febre que me assalta –
esta aguda pirexia que
tão sofregamente te deseja.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Do tempo em que os teus olhos...


Uma flor ou um poema,
o gozo do corpo
pelo corpo
sem entender mais das mãos
do que a vontade.

Eis o ofício dos que procuram a vertigem
no voo vertical da paixão.

sexta-feira, novembro 07, 2008

How fragile we are

"Lest we forget how fragile we are"
Sting


No meio de tanto blog sem interesse nenhum, um cujo interesse passa precisamente por perceber como somos frágeis (e no entanto tão fortes) e de como a vida toda muda quando passamos para o "lado de lá" da barreira.
Como diriam na RFM "vale a pena pensar nisto."
O blog tem um nome fantástico, com um subtítulo genial.
Votos de rápidas melhoras.

sábado, novembro 01, 2008

Às vezes Novembro

Às vezes Novembro era mais frio
que todos os meses
e uma sombra grotesca
amarfanhava-me os olhos.
Presas ao meu corpo arrastavam-se
sombras e pombos mortos,
coisas que mais ninguém
gostava de ver.
Às vezes Novembro
era um mês surdo,
e eu fechando os olhos
não ouvia o silêncio,
apenas o rugido trémulo
de uma trovoada cuja chuva
nunca vinha para amenizar-me
o sono e eu não
dormia nunca,
perorava vigil em
sobressalto pelos trovões.


in
"Pelo Inverso"