quinta-feira, setembro 24, 2009

Talvez Setembro

Talvez Setembro
com pássaros e um lago
ao fundo,
espécie de memória de férias,
lugar de pacificação.

Talvez Setembro
esparzido aos teus olhos,
nostalgia,
manhã do princípio,
invenção dos dias

ou a viagem incoerente da poesia.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Momento de pausa para reflexão de âmbito pessoal

Regressei de um curto retiro espiritual. Não escolhi um lugar isolado, apenas um de moderada calma e suficientemente longe do meu habitat natural para me sentir retirada.
A busca da paz e de um eu mais interior tem-se mostrado um percurso longo, num trajecto nem sempre fácil, com obstáculos vários a transpôr. Acontece que me vejo assim enleada nos mais curiosos, abastractos, diria até abstrusos, pensamentos sobre as mais variadas coisas, vai daí foge-me a mão e desato a escrever pessoalidades tão desinteressantes como esta no blog que faz de conta que é poesia (coitado).

Durante o meu retiro não deixei de ler o jornal diário para me ligar ao mundo, apenas deixei de ver televisão, não deixei de ler os mails que me enviavam apenas não respondi a nenhum e nada mais consultei na net, também da mesma forma não deixei de atender telefonemas mas deixei de os fazer, foi uma forma diferente de olhar o mundo ainda que com os mesmos olhos, foi como fugir dele estando apenas noutro lugar.

No regresso tentei a pacificação e o reencontro com a minha cidade, tarefa difícil nestes oito anos de desalento na sua "desgovernação", a ver se agora a coisa muda (sim, eu ainda tenho esperança), descubro depois que na minha ausência algumas coisa mudaram, por exemplo a FNAC de Stª Catarina mudou o aspecto e os locais de algumas coisas - o que é sempre difícil para mim já que devo ter uma ou duas costelas de obsessiva.

E ao sentar-me ao café descubro ainda que o Amor (coisa de letra graúda, não confundir com paixonetas adolescentes de Verão ou coisas assim, digamos que é aquilo que alguns sentem pelo cão, pelo gato, geralmente pelo Pai, pela Mãe, pelos irmãos, isto só para que se perceba a ideia da maiuscularidade da letra, refiro-me pois a Amor) é provavelmente o mais intenso e cruel acto irreflectido. Dá-se esperando (ah o Roland Barthes é que explica isto tão bem!) receber, sem se esperar receber, como quem dá agora sem querer nada em troca, não agora mas mais adiante. E no entanto, tantas e tantas vezes espera gorada, não há nada em troca só o vazio e o vazio no Amor dói, dói, dói. Tanto como uma bofetada ou um murro enfiado na boca do estômago. Porém, o Amor, o tal, o da letra maiúscula fica. É como os planos do Manoel de Oliveira: "fica, fica, fica." Não seria muito mais racional pô-lo de lado? Pois se a resposta é um vazio silêncioso, quando não um barulhento revés no que esperavamos como resposta ao nosso Amor, porquê insistir nele? Porquê continuar? Que marcha mazoquista é esta em que insistimos? É isso mesmo - o Amor - porque não é racional quando é Amor. Esqueçam lá a ideia de o domesticar. Lá dizia o poeta (O'Neil): "O amor é o amor - e depois? Vamos ficar os dois a imaginar, a imaginar?"

Desenganem-se os que amam, foram feitos para sofrer e - ó martírio - continuar a amar, a amar, a amar...

sábado, setembro 12, 2009

Entre um e outro voo (ou a ver passar os eléctricos)

A minha cidade acordou hoje estremunhada de pássaros a motor. Aviões a brincar na acrobacia fantasiosa que a todos nos ocorre, vez em quando, de voar. O estrepitoso roncar das passarolas desarruma o usado voo das gaivotas que, loucas de espanto, se abandonam em rotas circulares assobiando gritos abafados.
Entre um e outro voo abro a janela e fico a espreitar o fumo dos Breitlings em séries de sete a imitar o vê dos bandos de aves em migração.
Esta tarde não seguirei o voo dos aviões, fugindo ao bulício do povo mergulhado no rio até aos joelhos, vou ficar em sossego a ver passar os eléctricos eles também de ronco profundo fazendo trepidar as cadeiras no café

sexta-feira, setembro 11, 2009

Red Bull dá-te gaaaaassseeeesssss!!!!

Sobre os pássaros
Não sabendo do céu
mais do que a azulácea cor,
abriu-lhe os braços,
desarmados,
e voou.

Assim são os pássaros,
quando menos se espera
desatam a voar.
Qualquer coisinha lhes serve de asas!

Se é para aviar aviemo-nos!



Ânsia


Quanta ânsia de voar
há nas tuas asas esparsas
e na sépia do olhar
que com a sombra disfarças...

e quantas noites, quantas asas?
Dos beijos em que te afoitas,
dos lumes em que te abrasas.

Quanta ânsia de voar
há nas tuas asas esparsas
nos corpos por devorar
onde as palavras são escassas

e quantos olhos, quantas farsas,
no final de cada sonho
nos braços em que te abraças.

Quanta ânsia de voar
há nas tuas asas espars
as?
Solta-te no ar
num voo de fazer inveja às garças!


in
"A urgência das palavras"

sexta-feira, setembro 04, 2009

Conciliações



Chego ao teu corpo para conciliar o silêncio com a noite
e te deixar a paz nos braços para que possas adormecer

terça-feira, setembro 01, 2009

"O amor é louco, não façam pouco - Parte II"

Escrevi este "poema" por brincadeira, há vários anos atrás, a propósito de uma pessoa que constantemente gritava o seu "amor" aos 4 ventos como se o escrevesse na parede (vem tudo isto a propósito da foto do post anterior). Fi-lo por puro gozo, espécie de poema-com-moral, por acreditar pouco no amor que é preciso anunciar nas paredes.


Amor de parede

Escreves amor nas paredes,
será que nunca vais perceber,
que amar é sempre mais dar
do que o que hás-de receber?

Sonhas um anjo dourado
de asas longas a adejar
descendo em voo pausado
só para te vir abraçar.

Mas não há anjos no céu
senão os que inventares
em ti,
nem asas senão
as que fizeres voar
por ti,
à tua volta,
em teu redor.
Não há palavras com
que possas escrever,
ou mesmo dizer:
Amor!

Lembra-te que o mundo
que temos, é um lugar agreste
onde crescem mais os cardos
que uma qualquer flor silvestre.

Escreves amor nas paredes
será que não vais nunca entender,
como é isso do amor que se dá
sem se esperar receber?

"O amor é louco, não façam pouco [...]"

Não sei quem és, mas agradeço-te a delicadeza de estampares a declaração de amor mesmo assim à minha porta!