segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Crónica de Segunda - A saudade é uma doença crónica


A saudade é uma doença crónica. Vou aprendendo, com o tempo e a vida, que assim é. Só existe em português, a palavra dizem-me, e eu, que não conheço do mundo todas as línguas, senão duas ou três, acredito-me, ficando-me nesta muito portuguesa firmeza de propósitos de ser fiel à nossa própria melancolia,
Ter saudades nem sequer é mau, significa que tivemos algo que nos foi tão agradável que gostaríamos de repetir ou de nunca deixar de ter. Ter saudades de um registo parado, de uma situação já ida, é um estado depressivo de português resignado e triste esperando a miséria do seu fado, que fica a olhar para trás carpindo as mágoas do que já não há. Porém, ter saudade de alguém ainda que sendo um sentimento de incompletude, às vezes marejado a lágrimas, não deixa de ser um bom sinal, reportando-se a alguém que de tal forma nos terá iluminado, que estando ausente a esperamos, a desejamos, a recordamos, lembrando as coisas boas que sentimos na sua companhia. Por isso não se cura a saudade, é doença crónica que temos de transportar, só se trata com a presença mas quando esta termina, ou se de todo não for possível, fica este buraco, este vazio, esta insuportável melancolia, ao ponto de se transformar em dor e ser doença por isso mesmo, por doer e, como de amor, se pode morrer de saudade.

Quando alguém me diz “tive saudades tuas” fico feliz, percebo que nalguma altura fui para alguém motivo de amor, ao ponto dessa pessoa sofrer por mim esse mistério ambíguo da saudade e tenho esperança que ao virar as costas o fenómeno se possa repetir para que eu possa talvez querer voltar.  

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Crónica de Segunda - A verdadeira!

“É sexta feira, yeah!” A música, ainda recente, de Boss A.C. fica-se nos ouvidos e trás-nos, como habitual, um ímpeto de fim-de-semana. São centenas as musiquetas, umas melhores outras apenas cantilenas infantis, a glosar os dias da semana e, pasme-se, a glorificação é sempre relativa à sexta-feira, pela proximidade dos dias de descanso ou mesmo ao próximo fim-de-semana. Já a segunda-feira é miseravelmente desprezada, como uma espécie de pior dia da semana, algo a evitar, um patamar a passar rápido, coisa a não deixar memória. A única música que recordo versando a segunda-feira, de seu nome “Monday, Monday” dos The mammas and the pappas, esperançosa no início acaba por não ter um final feliz para o dia da semana, descrevendo-o como uma memória de choro.
Toda a ideia, não só na semana mas em tudo o resto, de ser segundo, secundário, de segunda é uma ideia a evitar. Na sociedade competitiva em que vivemos não ser o primeiro é ser o último ou, na melhor das hipóteses o primeiro dos últimos o que, certamente, não chega para nos avolumar o ego. Ser segundo, secundário, é depender e ninguém deseja ser dependente. O mesmo com o pobre dia da semana que é nada mais nada menos que o segundo, logo após o Domingo, e só é primeiro se o considerarmos o iniciador de um chorrilho de lamentos e misérias concernentes com o facto de ter terminado o escasso tempo de remanso entre semanas de trabalho. Na verdade, a páginas tantas, percebemos que vivemos a vida procurando que passe  depressa, de semana em semana para atingirmos dois, às vezes apenas um, dia de descanso.
E estas crónicas tão singelas, pobretanas de literatura, são de segunda, como uma carruagem de comboio, mais fria e desconfortável, sem luxos. Dir-me-ão que não é importante, que qualquer que seja a carruagem, desde que o comboio não descarrile, nos leva ao mesmo destino. Porém, como em tanto na vida, interessa em geral mais a viagem do que o destino onde chegamos.