O título da crónica foi ostensivamente deturpado do famoso livro de Mário Zambujal. Talvez me tenha vindo à ideia por agora o mesmo livro, que ainda não li e do qual não vi a versão cinematográfica, ter sido transformado 30 anos depois em musical. Certo é que me lembrei deste título como um bom corolário a uma sucessão de acontecimentos fortuitos numa tarde avulsa de um dia qualquer – como o de hoje.
Num elevador sou puxada para cima apesar de pretender descer. Atingindo o último andar do prédio o elevador abre as portas e um rapaz, que o esperava, antes de entrar questiona: “vai descer?”. Respondo-lhe que sim, acrescento “não tem mais por onde subir!”. Trocamos sorrisos, nada mais. Ele continua a responder a mensagens no telemóvel e eu continuo a pensar numa conversa de ontem – sobre a impossibilidade de termos um GPS interior, que nos mostrasse os mapas dentro de nós por onde temos de nos orientar.
Adiante numa montra de relógios caros um sem-abrigo, provavelmente drogado, certamente maluco, comenta para ele próprio mas em voz audível, os preços dos relógios, entremeando as frases com vernáculo “Este ainda é mais caro que aquele, F****-se!” sem se perceber se é presumível comprador, eventual assaltante ou apenas um apreciador de mecanismos e engrenagens nos intervalos permitidos pelo consumo de ácidos. Onde o levaria o GPS interior? Tic-tac, tic-tac, tic-tac, onde iria parar?
Num centro comercial, sentada a uma mesa com um copo de cerveja uma velha fala sozinha, como se ao seu lado se encontrasse uma amiga imaginária a quem contar os desmandos da vida, peripécias dos filhos ou dos netos, coisas de mulher viúva, mas só, gesticulando para a amiga, esperando a sua anuência “estás a ver?”. Não sei se amiga viu. Levantou-se pouco depois, sacudindo a saia roçada e um pouco amarfanhada, caminhando titubeante com o copo de cerveja na mão. O GPS levá-la-ia a que lugar?
Num café da cidade uns olhos que não são bem os teus mas são tão parecidos que eu quase que acreditei seres tu. Um perfume que não sendo o teu ficaria igual preso nas pontas dos meus dedos, eu sei. Deixa-me tocar-te os olhos como dantes, não agora não, não agora que o meu GPS interior deu a volta, enganou-se, ficou tonto, enlouqueceu “faça inversão de marcha assim que possível” – não sei se vai ser – “faça inversão de marcha assim que possível” – não sei se consigo – “faça inversão de marcha assim que possível”.
Ainda queria ter tempo de perguntar-te porque estão tristes os teus olhos mas… “faça inversão de marcha assim que possível” – nunca se deve desobedecer ao GPS, sob pena de nos perdermos e nunca mais nos conseguirmos encontrar!
Num elevador sou puxada para cima apesar de pretender descer. Atingindo o último andar do prédio o elevador abre as portas e um rapaz, que o esperava, antes de entrar questiona: “vai descer?”. Respondo-lhe que sim, acrescento “não tem mais por onde subir!”. Trocamos sorrisos, nada mais. Ele continua a responder a mensagens no telemóvel e eu continuo a pensar numa conversa de ontem – sobre a impossibilidade de termos um GPS interior, que nos mostrasse os mapas dentro de nós por onde temos de nos orientar.
Adiante numa montra de relógios caros um sem-abrigo, provavelmente drogado, certamente maluco, comenta para ele próprio mas em voz audível, os preços dos relógios, entremeando as frases com vernáculo “Este ainda é mais caro que aquele, F****-se!” sem se perceber se é presumível comprador, eventual assaltante ou apenas um apreciador de mecanismos e engrenagens nos intervalos permitidos pelo consumo de ácidos. Onde o levaria o GPS interior? Tic-tac, tic-tac, tic-tac, onde iria parar?
Num centro comercial, sentada a uma mesa com um copo de cerveja uma velha fala sozinha, como se ao seu lado se encontrasse uma amiga imaginária a quem contar os desmandos da vida, peripécias dos filhos ou dos netos, coisas de mulher viúva, mas só, gesticulando para a amiga, esperando a sua anuência “estás a ver?”. Não sei se amiga viu. Levantou-se pouco depois, sacudindo a saia roçada e um pouco amarfanhada, caminhando titubeante com o copo de cerveja na mão. O GPS levá-la-ia a que lugar?
Num café da cidade uns olhos que não são bem os teus mas são tão parecidos que eu quase que acreditei seres tu. Um perfume que não sendo o teu ficaria igual preso nas pontas dos meus dedos, eu sei. Deixa-me tocar-te os olhos como dantes, não agora não, não agora que o meu GPS interior deu a volta, enganou-se, ficou tonto, enlouqueceu “faça inversão de marcha assim que possível” – não sei se vai ser – “faça inversão de marcha assim que possível” – não sei se consigo – “faça inversão de marcha assim que possível”.
Ainda queria ter tempo de perguntar-te porque estão tristes os teus olhos mas… “faça inversão de marcha assim que possível” – nunca se deve desobedecer ao GPS, sob pena de nos perdermos e nunca mais nos conseguirmos encontrar!
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