Fazia hoje o meu “passeio higiénico” pela praia, caminhava sobre a areia molhada, deixando apenas “demolhar” os tornozelos, andei assim longa distância, apreciando vagamente os banhistas, fazedores de pontes e castelos, pescadores da margem, criancinhas saltitantes e fui absorvida por uma imagem. Uma mulher de idade, setenta e muitos, oitenta e poucos, sentada junto à margem da água, pernas abertas, o corpo inclinado para trás equilibrado sobre as palmas das mãos, as carnes flácidas, a pele branquíssima, láctea e um sorriso invertido como que em desespero, olhar semi-cerrado face ao sol. Sozinha, tinha tez e aspecto britânico, só, o corpo de velha estendido ao mar como se esperasse dele uma onda mais forte que a levasse, tinha ar de naufraga, não do mar mas da própria vida. Esperaria alguém – ainda que em sonhos? Um marido morto, um amante, uma viagem por cumprir? Fiquei a pensar na velha conforme fui caminhando, quando vemos alguém que morre pensamos irremediavelmente na nossa própria morte, fantasiamo-la; quando vemos um velho fantasiamos também a nossa própria velhice. Como serei eu, se atingir a idade dela, com aquela mesma idade? Estarei também ali na margem do mar com a areia, esperando em desespero uma qualquer quimera perdida? Um marido? Um amante? Uma estrela cadente? Um aluvião? Aquele poema ainda não escrito? Ter-me-ei já rendido à evidência que a vida é uma espera de poucos alcances?
Quando tornei do passeio a velha já lá não estava.
Quando tornei do passeio a velha já lá não estava.
1 comentário:
Provavelmente foi comida por um tubarão... ou na pior das hipóteses levada por um bife que, sozinho, procurava alguém que desse sentido à sua fortuna :))))
Com um beijo
Escorpião
PS: Porque não ver o lado positivo da vida?
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