Há uns bons pares de anos, encontrava-me num café-galeria na companhia de um amigo e do seu filho de sete anos. Enquanto nos perdíamos numa conversa de adultos o miúdo, no colo do pai, olhava atentamente os quadros expostos em redor. No final questionou “Pai, porque é que todos os quadros têm branco?”. O Pai explicou-lhe que era no branco, na ausência de cor, que todas as cores e ideias nasciam, criando o resto do quadro, daí que o branco fosse o elemento comum a todos os quadros – cuja autoria não me recordo mas lembro bem que eram bastante vivos e coloridos.
Pouco mais velha do que o filho do meu amigo àquela época, aprendi em aulas básicas de música que, não só havia lugar a silêncio como, para melhor o marcar, existia mesmo um símbolo para o representar na pauta – a pausa, tal qual como os símbolos das diferentes notas musicais. Fiquei com o conhecimento mas creio que, à época, não cheguei a compreender o porquê de assim denunciar na pauta que era tempo de não-som, de silêncio, sabendo que naquele tempo eu confundia ausência de som com ausência de música. Faltou-me, certamente, o meu amigo a explicar-me paciente e paternalmente que, tal como o branco e a ausência de cor, o silêncio era a base onde nascia o restante som, tanto a música como o ruído.
Agora, já muito adulta, o que não daria para que, no colo do meu Pai, ele me explicasse o tanto por saber sobre o silêncio. Quiçá mesmo esse meu amigo, se aqui estivesse comigo, me fosse capaz de explicar de onde partimos quando vamos pelo silêncio.
Do silêncio, como de um vazio, nascem todas as coisas, todas as músicas, todas as palavras mas, por ser silêncio, é também ausência e, ainda que belo, diria mesmo belíssimo, é, ao mesmo tempo, um mistério, pronto a tornar-se angústia. A angústia de desconhecer se o silêncio do outro quer dizer “Amo-te” ou apenas “não quero falar contigo”, se quer dizer “sei que me entendes” ou “não tenho nada para te dizer”. A pueril pergunta (a evitar, Santo Deus!) de amantes em início de carreira depois de se entregarem “Foi tão bom para ti como foi para mim?”, deveria ser obrigatoriamente substituída por o “O teu silêncio é igual ao meu?”.
Pouco mais velha do que o filho do meu amigo àquela época, aprendi em aulas básicas de música que, não só havia lugar a silêncio como, para melhor o marcar, existia mesmo um símbolo para o representar na pauta – a pausa, tal qual como os símbolos das diferentes notas musicais. Fiquei com o conhecimento mas creio que, à época, não cheguei a compreender o porquê de assim denunciar na pauta que era tempo de não-som, de silêncio, sabendo que naquele tempo eu confundia ausência de som com ausência de música. Faltou-me, certamente, o meu amigo a explicar-me paciente e paternalmente que, tal como o branco e a ausência de cor, o silêncio era a base onde nascia o restante som, tanto a música como o ruído.
Agora, já muito adulta, o que não daria para que, no colo do meu Pai, ele me explicasse o tanto por saber sobre o silêncio. Quiçá mesmo esse meu amigo, se aqui estivesse comigo, me fosse capaz de explicar de onde partimos quando vamos pelo silêncio.
Do silêncio, como de um vazio, nascem todas as coisas, todas as músicas, todas as palavras mas, por ser silêncio, é também ausência e, ainda que belo, diria mesmo belíssimo, é, ao mesmo tempo, um mistério, pronto a tornar-se angústia. A angústia de desconhecer se o silêncio do outro quer dizer “Amo-te” ou apenas “não quero falar contigo”, se quer dizer “sei que me entendes” ou “não tenho nada para te dizer”. A pueril pergunta (a evitar, Santo Deus!) de amantes em início de carreira depois de se entregarem “Foi tão bom para ti como foi para mim?”, deveria ser obrigatoriamente substituída por o “O teu silêncio é igual ao meu?”.