segunda-feira, maio 26, 2014
Crónica de Segunda - Uma crónica de falecimento colectivo.
As
minhas crónicas de segunda não costumam abordar a política, se entendermos
política como o comentário aos partidos, suas diatribes, discursos de líderes,
etc, já que, de outra forma, tudo é política. "Mesmo
caminhando contra o vento/ dás passos políticos/ sobre
solo político", diria Szymborska pelo que, e atendendo à ventania contra a
qual me vi obrigada a caminhar hoje todo o dia, me vejo na necessidade de abrir
as portas desta crónica à política dita “pura e dura”, aquela que se jogou
ontem em eleições europeias.
Porém esta crónica era apenas o
pretexto de me questionar, de olhos arregalados: que povo é este o que temos? Que
cobarde e ignorante gente é esta que, quarenta anos postos sobre o 25 de Abril,
que nos abriu a liberdade não só de expressão mas mais, muito mais, a liberdade
de escolha, de sermos cidadãos por inteiro, de nos podermos expressar como tal
escolhendo os que queremos que nos governem, se nega esse direito, despreza a
luta de tantos e se deixa assim cair nesta abulia?
E quem são, ou onde estão, os magotes
de gente que encheram praças em diversas manifestações, os polícias endiabrados
que subiram escadarias de faz de conta? Onde estão os críticos de café? Os
indignados da vida? Os que cantaram grândolas? Bem sei que há uma leva recente
de emigrados que não puderam votar e não serão assim tão poucos, mas com
franqueza…66,6%? Somos 33,4% apenas de gente viva? Alô? Está alguém aí?
Não me venham, estes defuntos, depois
com queixumes ok?
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