O meu ramo profissional não é
muito dado à descrição do etéreo e do menos objectivo. Quando entrei para a
Faculdade garantiam-me os professores, com ar doutoral, que a Medicina é uma
Arte e eu, na minha melhor inocência, acreditei, para só mais tarde perceber
que, mesmo nos achaques da alma, a componente artística derivava mais do “artista”
do que do substrato e, transformado tudo em linguagem científica, esta era isso
mesmo – científica.
Há dias, convidada para assistir
a uma palestra, dei com um colega que, nos comentários ao que havia sido
exposto na mesma apresentação, desatou a dissertar sobre “a inquietação que uma
dor no peito provoca”, tal e qual. A “inquietação”. Foi tudo quanto precisei
para não ouvir mais nada do que de científico ali foi dito e ocupar-me a pensar
em inquietação e dores no peito, não das que afectam coronárias entupidas, nem
tão pouco moléstias da parede do tórax ou dos pulmões, de tudo quanto de
orgânico resida e possa provocar dores na caixa torácica. Pelo contrário encanta-me
a inquietude do lugar onde imaginamos o afecto e os medos. Ali se quedam os
amores e os desamores, os receios, os sustos, as inexactidões, ali mesmo a
alma, quando não achamos outro lugar onde a situar. Tudo porque o orgânico
músculo se acelera por cada vez que em nós uma corda mais forte é mexida.
Fiquemos então com a inquietação no
peito, parece-me bonito para terminar este ciclo. Esta é, provavelmente, senão
a última “Crónica de Segunda” pelo menos a última por muito tempo. Não sei se
para sempre ou apenas por tempo indefinido, não tendo isso ainda bem certo em
mim, irei encerrar esta “loja”. Para já para balanço, sem certezas, porém, de
voltar e sem data para o fazer.
A todos quantos me leram o meu
sincero agradecimento, pela paciência e fidelidade, pelos comentários, pelo
abraço mesmo o virtual.Encerro este ciclo, pelo menos até reencontrar a minha voz, com esta inquietação no peito. Enquanto sentimos inquietação sabemos ao menos que estamos ainda vivos.
Bem hajam.
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