A braços com a crónica e sem tema para ela, resolvi mergulhar naquelas coisas que nos irritam, mesmo naqueles, ou sobretudo nesses, de quem gostamos, como os amigos.
Acontece-me a mim e a quase todos, pelo Natal e Ano Novo uma inundação telefónica de mensagens de gente que mal conhecemos e outros que nos são próximos com os votos do costume em mensagem mais ou menos produzida mas que, em geral, soa a tudo menos pessoal. Há quem se irrite profundamente com esta prática. Pessoalmente não a considero assim tão má. Tem o inconveniente do telemóvel que apita a toda a hora mas se o pusermos em silêncio torna-se muito mais suportável. É verdade que me é algo indiferente se a tia da prima da porteira que ficou com o meu número por em tempos me ter cravado uma receita de aspirina me envia votos de um ano cheio das melhores coisas, mas sempre seria pior que essa mesma pessoa me desejasse uma caganeira ou coisa quejanda. Mais frustrante é percebermos que a nossa prima preferida, o cunhado ou o nosso irmão nos enviam a mesma exacta mensagem, suspeitando nós que foi reencaminhada da mesma tia da prima do porteiro. Mas verdade, verdadinha, por menos original e impessoal que seja a mensagem que nos enviam há-de querer dizer que a criatura em causa, seja lá ela quem for, ao passar a lista de ilustres do telemóvel, se lembrou de nós e, seja por verdadeira amizade ainda que às vezes pouco alimentada ou apenas por respeito, achou que merecíamos ser carimbados com a natalícia sms. Portanto não acho mal, e acho pior quando a mensagem pré-formatada vem dos íntimos e dos amigos, não porque não goste do contacto, ainda que apenas virtual, mas por achar que aos amigos fica mais bonito dar algo de pessoal, algo que os faça perceber que mais do que correr a lista, pensamos sobre eles e não apenas neles.
Vem esta reabilitação, quase apologética, das pobres sms decembrinas a propósito de algo que me irrita muito mais, mas muito mais, tanto assim que vem sempre de gente a quem chamo amigos e a quem estou afectivamente ligada. Ao contrário dos vagos conhecidos e gente de quem já nem nos lembramos, ocorre-me às vezes ligar a amigos com quem não estou há algum tempo para ouvir a suas vozes, trocar cromos e apontamentos de actualidade, sobretudo aquela que não interessa a ninguém, ou mesmo discutir a meteorologia. O que me irrita perguntará o leitor já intrigado? Aquele amigo – digo amigo porque me parece que isto é um hábito masculino, não me recordo amigas que me façam este desplante – que no início, no meio ou no fim das conversas, sejam das longas ou das de “olá e adeus”, prometem/ameaçam: “temos de nos encontrar” ou “temos de ir lanchar” ou outra similar afirmação, por vezes encimada de ponto exclamativo e sempre ameaçando acontecer na semana seguinte – nunca na semana em causa – promessa, naturalmente, a esquecer ainda durante aquela semana. Além de ser uma coisa irritante, em qualquer circunstância, sempre que tal me acontece tem o dom de me magoar, de me espetar uma faca no peito e fazer pensar “onde é que eu tinha a cabeça para ligar a este animal?”, fazendo-me depois, nos dias em que tenho tempo para dar largas ao pensamento, ir mais longe e chegar a questões do tipo “mas eu sou amiga desta pessoa? Ou melhor, esta pessoa é minha amiga?” – nítidos erros de casting os “amigos” que acham que quando lhes ligamos, ao invés do colo e ternura que se encontra na voz dos que amamos a contar as fresquíssimas novidades dos 3 meses em que não falamos, preferimos uma promessa tonta de um encontro que nunca existirá para pôr em dia a tal conversa decerto agora com 3 anos de atraso. A brincar, a brincar, ficam reduzidos a dois telefonemas por ano, nos aniversários e no Natal… talvez no Natal uma sms, daquelas assim originais – votos de um Natal feliz para si e para os que mais ama.
Acontece-me a mim e a quase todos, pelo Natal e Ano Novo uma inundação telefónica de mensagens de gente que mal conhecemos e outros que nos são próximos com os votos do costume em mensagem mais ou menos produzida mas que, em geral, soa a tudo menos pessoal. Há quem se irrite profundamente com esta prática. Pessoalmente não a considero assim tão má. Tem o inconveniente do telemóvel que apita a toda a hora mas se o pusermos em silêncio torna-se muito mais suportável. É verdade que me é algo indiferente se a tia da prima da porteira que ficou com o meu número por em tempos me ter cravado uma receita de aspirina me envia votos de um ano cheio das melhores coisas, mas sempre seria pior que essa mesma pessoa me desejasse uma caganeira ou coisa quejanda. Mais frustrante é percebermos que a nossa prima preferida, o cunhado ou o nosso irmão nos enviam a mesma exacta mensagem, suspeitando nós que foi reencaminhada da mesma tia da prima do porteiro. Mas verdade, verdadinha, por menos original e impessoal que seja a mensagem que nos enviam há-de querer dizer que a criatura em causa, seja lá ela quem for, ao passar a lista de ilustres do telemóvel, se lembrou de nós e, seja por verdadeira amizade ainda que às vezes pouco alimentada ou apenas por respeito, achou que merecíamos ser carimbados com a natalícia sms. Portanto não acho mal, e acho pior quando a mensagem pré-formatada vem dos íntimos e dos amigos, não porque não goste do contacto, ainda que apenas virtual, mas por achar que aos amigos fica mais bonito dar algo de pessoal, algo que os faça perceber que mais do que correr a lista, pensamos sobre eles e não apenas neles.
Vem esta reabilitação, quase apologética, das pobres sms decembrinas a propósito de algo que me irrita muito mais, mas muito mais, tanto assim que vem sempre de gente a quem chamo amigos e a quem estou afectivamente ligada. Ao contrário dos vagos conhecidos e gente de quem já nem nos lembramos, ocorre-me às vezes ligar a amigos com quem não estou há algum tempo para ouvir a suas vozes, trocar cromos e apontamentos de actualidade, sobretudo aquela que não interessa a ninguém, ou mesmo discutir a meteorologia. O que me irrita perguntará o leitor já intrigado? Aquele amigo – digo amigo porque me parece que isto é um hábito masculino, não me recordo amigas que me façam este desplante – que no início, no meio ou no fim das conversas, sejam das longas ou das de “olá e adeus”, prometem/ameaçam: “temos de nos encontrar” ou “temos de ir lanchar” ou outra similar afirmação, por vezes encimada de ponto exclamativo e sempre ameaçando acontecer na semana seguinte – nunca na semana em causa – promessa, naturalmente, a esquecer ainda durante aquela semana. Além de ser uma coisa irritante, em qualquer circunstância, sempre que tal me acontece tem o dom de me magoar, de me espetar uma faca no peito e fazer pensar “onde é que eu tinha a cabeça para ligar a este animal?”, fazendo-me depois, nos dias em que tenho tempo para dar largas ao pensamento, ir mais longe e chegar a questões do tipo “mas eu sou amiga desta pessoa? Ou melhor, esta pessoa é minha amiga?” – nítidos erros de casting os “amigos” que acham que quando lhes ligamos, ao invés do colo e ternura que se encontra na voz dos que amamos a contar as fresquíssimas novidades dos 3 meses em que não falamos, preferimos uma promessa tonta de um encontro que nunca existirá para pôr em dia a tal conversa decerto agora com 3 anos de atraso. A brincar, a brincar, ficam reduzidos a dois telefonemas por ano, nos aniversários e no Natal… talvez no Natal uma sms, daquelas assim originais – votos de um Natal feliz para si e para os que mais ama.
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