sexta-feira, outubro 02, 2009

Vale sempre a pena voltar a ler...

Uma cidade que se perdeu de si

Ouvir um candidato autárquico reconhecer o "carácter prioritário" da cultura só é surpreendente numa cidade, como o Porto, entregue há vários anos a gente sem qualquer visão estratégica e incapaz de ver além da Circunvalação.
Rui Rio é um exemplo extremo da tantas vezes repetida constatação de Wittgenstein de que "o 'meu' mundo se revela no facto de os limites da [minha] linguagem (…) significarem os limites do 'meu' mundo". A linguagem de Rio diz, com efeito, tudo o que há a dizer sobre a estreiteza do "seu" mundo (um pequeno e asfixiante mundo entre a despensa e a sala de jantar) e sobre a mediocridade da "sua" gestão. Cultura, para Rio, significa La Féria e corridas de carros e de aviões. É esse o "seu" mundo, o mundo que a sua linguagem lhe permite e, reduzido ao tamanho do mundo de Rui Rio, o Porto transformou-se numa pequena cidade, um bairro periférico de si mesmo e do seu passado. Que Elisa Ferreira se proponha, se eleita, assumir pessoalmente o pelouro da Cultura é apenas o reconhecimento da situação de emergência cultural, que é o mesmo que dizer de identidade, que o Porto hoje vive.
Manuel António Pina
in JN 2009-09-25

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