[…] A uma hora dessas
por onde andará seu pensamento
Dará voltas na Terra
ou no estacionamento?
Onde longe Londres Lisboa
ou na minha cama?
[…] *Este pensamento persegue-me.
Os mortos só morrem verdadeiramente quando deixam de ser lembrados, pensados. Com os vivos passa-se o mesmo, enquanto pessoas não existimos se aqueles que nos conhecem não nos lembram.
Às vezes, como agora, dou por mim a pensar em quem pensará em mim e do que se lembrará de mim, tanto agora como quando eu partir. Dou por mim a pensar que marca deixo nos outros (se a deixo). Que lembraça será, a dos olhares partilhados, das pequenas piadas, frases ditas, pensamentos profundos ou apenas parvos, “estórias” de batalhas travadas ou de pura diversão. Inquieta-me este pensamento. Da mesma forma que a distância dos que fazem parte de mim sempre me inquietou, a distância real, física, dos que partem para outro lugar e aquela ainda mais difícil de quebrar, aquela que vamos deixando interpor-se, dos muros de distância que vamos construído.
[…]
A uma hora dessas
por onde passará seu pensamento
Por dentro da minha saia
ou pelo firmamento?
[…] *
Se eu morresse hoje, que poemas fariam a minha mortalha? Haveria poemas? Que poemas me dedicariam?
Natália Correia escreveu " Os que nunca inspiraram um poema/são as únicas pessoas sós."
Que poema inspiraria eu aos meus amigos?
* Adriana Calcanhoto