Convém avisar os Ingleses...
[...]"em Orly milhões de gaivotas
não deixam voar os aviões
barricam as pistas
entopem os reactores
e é só nesses dias
que morrem poetas"
"Abriu uma mão, depois outra, estavam ainda vazias, a pescaria rendeu pouco afinal, anos a fio de mão vazias segurando o nada pelas pontas."
Convém avisar os Ingleses...
[...]"em Orly milhões de gaivotas
não deixam voar os aviões
barricam as pistas
entopem os reactores
e é só nesses dias
que morrem poetas"
Esta noite não durmo aqui, hei-de tornar ao Estoril, e ficar a ver a lua cheia do alto da varanda recuada do oitavo piso do Vila Galé, a ver a estrada, a bomba de gasolina, o Gordini já fechado, a linha férrea deserta – não, talvez um comboio desesperado pela noite fora a apitar (há comboios de madrugada nesta linha? Não sei, nunca os vi nem os senti), e depois o mar, o longo o intenso o azul escuro mar. Estoril e o mar.
Não, esta noite não durmo aqui, nem pensar, vou cear ao Piazza e depois Estoril, está decidido. Vila Galé para a varanda da lua cheia, colado ao Palácio onde descobri o espanto de uma noite de Janeiro, quatro da manhã no quarto deserto e tão cheio, uma rosa para ti e para mim o entendimento surdo do tempo em que ainda falávamos uma mesma língua. Já passou.
Não me liguem, não me dêem atenção, são três e meia da manhã e tento adormecer neste sofá, o corpo em torpor, uma luz acesa sobre os olhos, o som do teclado insistente clac-clac-clac, luzes que piscam, alarmes a enlouquecer a noite e gemidos de dor ao longe. É que claro que não estou aqui, não durmo aqui nem por nada!
Esta noite durmo em Lisboa. Até amanhã.