Como ponto prévio digo-o já, não
ligo nenhuma ao Futebol, é um desporto que não me dá particular gozo, vejo
alguns jogos da selecção e pouco mais, nunca sei quem nem quando joga e, sendo
filha de benfiquistas, tenho como clube dito do coração o F.C. Porto apenas
porque gosto do azul e porque o clube leva no nome a minha cidade amada.
Nada disto interessa quando se
fala da morte de um Eusébio. Eusébio foi, naturalmente, uma figura maior do
desporto, futebolista de elite, num tempo difícil, sendo ele um rapaz das
colónias, vindo da pobreza e mostrando ser capaz das melhores façanhas,
verdadeiramente genial, elevando o nome do País, sempre pequeno e àquele tempo
entrincheirado na ditadura, nas várias partes do globo, com isso conseguindo
alguma notoriedade para Portugal e mais ainda para o seu Benfica. Por isso
quando Eusébio morreu, de forma algo inesperada não obstante a doença que o
minava, compreendo não só a dor dos que o conheceram, com ele privaram e da sua
família, como compreendo a dor e o sentimento de orfandade que sempre acompanha
a morte, naqueles que não o conhecendo eram seus admiradores. Compreendo isso e
acho até muito bem, sendo ele um símbolo nacional de grandeza na sua profissão,
de trabalho abnegado e sucesso como resultado desse trabalho, por seu mérito,
que se perca tempo nos telejornais com a notícia da sua morte, curtas resenhas
das suas glórias e reacções várias de figuras públicas e anónimos ao seu
falecimento. Não acho mal nada isso, acho compreensível, aceitável, quiçá até
desejável, já que a melhor forma de exorcisar a morte e lembrar os que partem é
essa comemoração misto de dor, tristeza e memória. O Presidente da República
fazer uma comunicação ao País parece-me um tudo nada exagerado mas até isso é
aceitável atendendo ao facto de se tratar de alguém entendido por muitos como
um símbolo nacional.
É por isso que esta crónica não é
sobre o Eusébio, esta crónica é sobre vários outros, trabalhadores abnegados na
sua área, criativos e únicos, sujeitos geniais que elevaram o nome do País por
terem sido mais altos, por terem ido mais além, por terem transmitido sonho,
afecto, cultura, por terem elevado também a língua, esta que falamos e que é a
nossa Pátria como dizia Pessoa. Esses outros que também nos deixaram
recentemente e que do tempo de antena televisivo foram chutados para o rodapé,
pequena peça no fim do telejornal, curto documentário no canal dois a hora
incerta. Falando apenas dos que nos deixaram mais recentemente lembro Manuel
António Pina na sua superior grandeza, dos mais completos escritores que me
lembro de ter lido, de uma humildade tão grande como a sua própria grandeza;
lembro Urbano Tavares Rodrigues, ainda activo escrevendo sempre até ao seu
final, lembro António Ramos Rosa, dedilhando poemas nos seus dedos longilíneos,
o magnífico Nadir Afonso, o extraordinário Bernardo Sassetti e muitos que agora
não me ocorrem, nem seria normal que me ocorressem já que a sua morte não
desorganizou toda a programação dos media, não ocupou dias inteiros,
reportagens de fundo, velórios em directo, lágrimas verdadeiras e as de
crocodilo.
Descansa em Paz Eusébio. Tu e
todos os que já partiram e nos fizeram sonhar.
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