É Julho, dêmos-lhe as
boas-vindas. Eu gosto de Julho. Julho é Verão, Julho é quente, em Julho
acontecem coisas fantásticas – como ministros que se demitem deixando uma onda
de risos e comédia em quase um país inteiro e um clima de pesada consternação em
três ou quatro especialistas do partido. Em Julho também sobem a ministras
senhoras conhecidas por lidarem com produtos económicos arriscados na sua
toxicidade com nomes estrangeiros que querem dizer “trocas” e vai daí
trocaram-nos, a ele por ela e a nós as voltas, mudando para tudo poder, da
melhor maneira, ficar na mesma.
Mas Julho não é só isto, em Julho
há calor, há férias, há praia, há cheiro a maresia entrecortado pelo cheiro de
Eucalipto a arder e, de todas as coisas extraordinárias que acontecem em Julho,
a mais pífia – também eu nasci em Julho, embora o acto do nascimento seja
sempre uma coisa extraordinária.
Julho é, aliás, o meu mês
favorito e, porque estas são escolhas que se fazem na infância, certamente que
para isso contribuiu o facto de estar em férias escolares, coincidindo com os fins
de ciclo, com o avançar de patamares académicos, no tempo em que o futuro era
ainda uma porta aberta para quase qualquer infinito que me aprouvesse e, a
ajudar à festa, ainda levava umas prendas catitas logo no dealbar do mês.
Agora os patamares são estreitos
e nem sempre coincidentes com Julho ou as férias grandes, o futuro é um túnel onde
já estou de viagem ainda que aqui e ali com bifurcações com cada vez menos a
escolher; as prendas são poucas e em geral menos proveitosas, sendo já uma boa
vitória quando não tenho de as empilhar no lote dos imprestáveis; envelhecer
não tem graça, dizem que aos anos somámos experiência e sabedoria, até que é verdade,
mas se olharmos bem, não é isso mesmo que nos faz mais infelizes? Pois se nos morrem
as ilusões, próprias da juvenil inexperiência, que nos resta para nos fazer
continuar?
Melhor ou pior, na conta dos
dias, este Julho entrou bem, vem com calor, já lhe tinha saudades que anos
últimos nisso do calor foram parcos, espécie de Verões arrependidos, a
espreitar aos soluços, e a mim já me faltava um Verão como os antigos, de
quando ainda tinha ilusões e menor número de Verões a festejar, um Julho acima
dos trinta graus, um Julho de abrir janelas e sair pela fresca da noite à espreita
de estrelas, e do zunir das cigarras, da janela aberta no carro, das
esplanadas, das conversas ao relento pela leda madrugada, a espreitar a lua,
das noites longas e do amor.
Sê bem-vindo Julho de calor,
contigo até me vai custar menos continuar a envelhecer.
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