A saudade é uma doença crónica. Vou
aprendendo, com o tempo e a vida, que assim é. Só existe em português, a
palavra dizem-me, e eu, que não conheço do mundo todas as línguas, senão duas
ou três, acredito-me, ficando-me nesta muito portuguesa firmeza de propósitos
de ser fiel à nossa própria melancolia,
Ter saudades nem sequer é mau,
significa que tivemos algo que nos foi tão agradável que gostaríamos de repetir
ou de nunca deixar de ter. Ter saudades de um registo parado, de uma situação
já ida, é um estado depressivo de português resignado e triste esperando a miséria
do seu fado, que fica a olhar para trás carpindo as mágoas do que já não há.
Porém, ter saudade de alguém ainda que sendo um sentimento de incompletude, às
vezes marejado a lágrimas, não deixa de ser um bom sinal, reportando-se a
alguém que de tal forma nos terá iluminado, que estando ausente a esperamos, a
desejamos, a recordamos, lembrando as coisas boas que sentimos na sua
companhia. Por isso não se cura a saudade, é doença crónica que temos de
transportar, só se trata com a presença mas quando esta termina, ou se de todo
não for possível, fica este buraco, este vazio, esta insuportável melancolia,
ao ponto de se transformar em dor e ser doença por isso mesmo, por doer e, como
de amor, se pode morrer de saudade.
Quando alguém me diz “tive
saudades tuas” fico feliz, percebo que nalguma altura fui para alguém motivo de
amor, ao ponto dessa pessoa sofrer por mim esse mistério ambíguo da saudade e
tenho esperança que ao virar as costas o fenómeno se possa repetir para que eu
possa talvez querer voltar.
1 comentário:
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