Gostar de ti não é coisa de que me orgulhe particularmente. Não que não me orgulhe de ti, o que é uma coisa totalmente diferente, mas esse orgulho que sinto vem de ti, daquilo que és, do que representas, da forma como te afirmas é, ao fim e ao cabo, o orgulho de tudo aquilo que me faz gostar de ti, porém não é o acto de gostar de ti que me orgulha. De resto de ti orgulho-me muito, chego a orgulhar-me até da proximidade de ti, da tua amizade, das coisas que juntos chegamos a partilhar, mas não me orgulho do amor tamanho que te tenho. O amor, o gostar-se de alguma coisa ou de alguém, apesar de ser o grande motor de tudo e o mais belo de todos os sentimentos, não é razão de orgulho. Nasce espontâneo, não é planeado, não dá trabalho ao nascer, não exige esforço, não é sequer pensado e apenas resulta num imenso sofrimento, a imensa dor dos que amam. O amor vive condenado a ser expiado em angústia, a angústia da perda, a angústia de não ter, a angústia de não ser, a angústia da ausência e do esquecimento e finalmente a angústia da morte. São tantas as dores que acompanham o amor que ninguém pode orgulhar-se de o sentir, ainda que lhe dê gozo, ainda que nos intervalos da dor seja prazer.
É, enfim, por tudo isto que não me orgulho particularmente de gostar assim de ti. Mas gosto.
É, enfim, por tudo isto que não me orgulho particularmente de gostar assim de ti. Mas gosto.