segunda-feira, outubro 25, 2010

Crónicas, croniquetas e cronicões

Mais uma aqui:

Crónicas de Segunda (02) - Os Ídolos rastejantes

segunda-feira, outubro 18, 2010

Crónicas da Cidade Cinzenta

E não os podemos enxotar?

Tenho vícios estranhos, admito, como aquele de precisar de estar só, a certas horas, em certos lugares, procedendo a certas actividades ou certas rotinas. Tenho uma absoluta necessidade de silêncio e solidão para me deixar ficar só a observar o mundo, mirado pela minha própria lente de aumento ou diminuição.
Às vezes acontece de, nesses momentos, ser importunada por um familiar ou um amigo e refiro-me aos amigos e familiares a quem amo, não aos chatos, às chagas que todos conhecemos, refiro-me mesmo às pessoas que mais amo, à família mais chegada e aos Amigos de á maiúsculo. Mas dizia, há vezes que uma (ou várias) dessas pessoas resolvem imiscuir-se nas minhas rotinas de solidão, insistem em acompanhar-me pela rua, em parar comigo nas mesmas montras, entrar comigo nas mesmas lojas, enfim – não me largam. Em férias, se fora de casa, o problema agrava-se. Quase sempre partilhando o hotel, o quarto, todas as refeições, a praia, a piscina, enfim, quase tudo – a privacidade fica reduzida a pequenos lampejos como seja um curto passeio a pé na redondeza, o momento em que se vai comprar o jornal ou os minutos de ir fazer xixi no quarto do hotel e, ainda assim, às vezes calha de alguém da pandilha ter a ideia abstrusa de nos acompanhar nessas idas por vontade semelhante seja a fisiológica seja a de comprar o jornal ou tomar café no bar em frente ao hotel.
Pergunto-me, às vezes, sobre a melhor forma, a menos rude, de lhes escapar, enfim, de os enxotar. Como me livrar deles sem os magoar? Será que não entendem que preciso, urgentemente, de ficar a sós comigo mesma para pensar? E em que penso eu, quando estou só? Penso nos Amigos e na Família, penso precisamente naqueles que amo. Preciso em absoluto dessa solidão para ficar a amá-los, a pensar neles. Preciso disso para escrever sobre eles, para lhes fazer um poema ou um texto tão palerma como este (e a minha absoluta e absurda necessidade de solidão).

Crónicas, croniquetas e cronicões

Mais uma, aqui:

Crónicas de Segunda (01): Alberto João, o grande humanista!

sexta-feira, outubro 01, 2010

Crónicas da Cidade Cinzenta

Dia Mundial da Música


É impossível pensar a música sem te pensar a ti, tu que eras todo música por dentro quando eu te conheci, um lume de música a arder-te nos braços, mesmo quando eras só silêncio. Às vezes dava contigo
(eu costumava entrar devagar pela tua retaguarda)
de braços erguidos, as mãos acima do nível dos ombros a conduzir uma orquestra imaginária, o horizonte
(o meu, que era o de quem entrava devagar pela tua retaguarda)
começava acima da linha larga desenhada pelos teus ombros e eu , a esse tempo, gostava que o meu horizonte começasse sobre a linha larga dos teus ombros. Era num ombro que te tocava, para acordar-te dessa viagem imaginária pela música da orquestra dentro de ti. Acordavas como resposta ao meu toque mas nos teus olhos a música continuava sempre, incessante e infinita, tudo dentro dos teus olhos.

É impossível pensar a música sem te pensar a ti, tu todo silêncios e pausas, quando eu te conheci, pausa, silêncio, paus
a, silêncio, pausa, mesmo quando falavas, mesmo quando te sentavas ao piano e interpretavas uma peça qualquer cujo nome e autor eu nunca sabia identificar
(nunca fui muito boa a identificar peças, bastava-me identificar-te a ti ao piano, podias ser um entre mil, sempre te identificaria, as costas direitas, o corpo retesado, o peito aberto e aquele balançar pendular em ângulo de 20º)
mesmo aí eras silêncios e pausas mais do que qualquer outro som percutido no piano.

É impossível pensar a música sem te pensar a ti, impossível! Ao pensar a música penso o mesmo que pensar-te, o piano no canto da sala, um ou dois violinos, uma viola, um violoncelo, nos dias bons um contra-baixo, um clarinete, um saxofone-alto, uma tuba
(lembras-te da tuba que inventaste naquela canção? Já não importa, ainda que não te lembres, a tuba apodreceu-te na ideia, ninguém a pôs em prática, mas eu registei, ficou em mim a tuba a tocar-me por dentro, aquele som gutural e fundo),
um xilofone, um espanta-espíritos a sacudir-se no vento como quando tu vinhas também a sacudir o vento dos meus dias.

É impossível pensar a música sem te pensar a ti, impossível! Por isso não me peçam para pensar a música.