Quando eu te conheci não usavas relógio
Quando eu te conheci não usavas relógio.
Rasgavas o tempo com as pontas dos dedos
como se rasgasses desejos,
ou murmúrios
ou medos…
Quando eu te conheci não usavas relógio.
O tempo adormecia-te nas mãos
e as mãos percorriam o marfim
no esteio de um tempo de todos os silêncios.
Quando eu te conheci
o tempo soprava-te no rosto,
a afagar-te as rugas e as imperfeições,
a beijar-te nos olhos a dor
de todos os cansaços,
o peso no peito
de todas as aflições.
Agora prende-se ao teu pulso
o burburinho das horas,
um ataque de ponteiros
na engrenagem dos segundos,
como se o teu tempo
coubesse fechado
no espaço redondo
de um vidro quadrado
Quando eu te conheci não usavas relógio.
Então agora diz-me…
Que horas são?
Na tua confusão de silêncios e demoras
que horas são em ti,
agora que é em ti
que se prendem as horas?
3 comentários:
"Param relógios
no raiar dos dias
[...]"
P.A.
SomBrA
Até que enfim que a encontrei! E que prazer o meu.
Gostei muito do que li dado,aliás, que tinha como certo.
Então lá estaremos na Fnac onde lerei alguns dos seus poemas com o maior prazer.
Se tiver preferência por algum ou alguns agradeço que me diga.
Beijos.
It is remarkable, it is very valuable piece
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