quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Sobre o que o tempo nos faz

Quando eu te conheci não usavas relógio

Quando eu te conheci não usavas relógio.
Rasgavas o tempo com as pontas dos dedos
como se rasgasses desejos,
ou murmúrios
ou medos…

Quando eu te conheci não usavas relógio.
O tempo adormecia-te nas mãos
e as mãos percorriam o marfim
no esteio de um tempo de todos os silêncios.

Quando eu te conheci
o tempo soprava-te no rosto,
a afagar-te as rugas e as imperfeições,
a beijar-te nos olhos a dor
de todos os cansaços,
o peso no peito
de todas as aflições.

Agora prende-se ao teu pulso
o burburinho das horas,
um ataque de ponteiros
na engrenagem dos segundos,
como se o teu tempo
coubesse fechado
no espaço redondo
de um vidro quadrado

Quando eu te conheci não usavas relógio.

Então agora diz-me…

Que horas são?
Na tua confusão de silêncios e demoras
que horas são em ti,
agora que é em ti
que se prendem as horas?

3 comentários:

Anónimo disse...

"Param relógios
no raiar dos dias
[...]"

P.A.





SomBrA

Donagata disse...

Até que enfim que a encontrei! E que prazer o meu.

Gostei muito do que li dado,aliás, que tinha como certo.

Então lá estaremos na Fnac onde lerei alguns dos seus poemas com o maior prazer.

Se tiver preferência por algum ou alguns agradeço que me diga.

Beijos.

Card Shuffling disse...

It is remarkable, it is very valuable piece