Desde o momento em que tornei públicas (algumas d)as coisas que escrevo, com a edição de livros, passei ocasionalmente – sobretudo no seguimento de uma edição recente – a ser abordada pela pergunta “então e para quando um novo livro?” – o que, na verdade, quase sempre me parece pergunta de quem não lendo o anterior se compraz em ter assunto de conversa mostrando muito interesse em “ciência” que desconhecem. Claro que, talvez, esta minha sensação seja enganosa, muitas vezes será demonstração de real interesse por parte de quem me interroga e eventualmente até vontade de me ler mais.
Outra pergunta frequente é “tens escrito?” – como se os poemas nascessem nas árvores ou assim, penso – respondo quase sempre “…pouco…” e é verdade, escrevo sempre tão pouco, tão muito menos do que gostaria e quase sempre tão mal, tão muito pior do que ambiciono…
E, na verdade, os poemas nascem nas árvores e andam por aí aos pontapés, eles estão lá, nos sítios já quase prontos a colher eu é que tardo a encontrá-los, como sempre na vida tardo, tardo, tardo…
…e
“é já tão tarde esta noite”…Pesam-me os olhos,
as mãos,
o corpo todo,
pesas-me tu e a dor
do amanhecer sem ti,
o cheiro que é ainda o teu
ao acordar,
os teus braços que não sinto
ao redor de mim mas
que me fazem falta
para chorar.
É já tão tarde esta noite
e a paz que pedi
tarda tanto em chegar.
Lá fora a lua desce
entre as árvores,
redonda e gorda
a iluminar as almas.
Fecho então os olhos
na impertinência de não ver
mais do que a luz
que não sei achar em mim.
Fere-me a vista este luar e
...É já tão tarde esta noite