Agora que está calada a cidade
dos infernais ruídos da urbanidade
que o sol se encerra atrás do vidro
fechadas as portadas à luz
falemos nós,
faltamos nós,
a entreter com palavras
o silêncio que tememos
desvendar enquanto sós.
Percebo-te tanto quando te olho
e o teu corpo um limite finito de ti.
Percebo-te tanto quando te abraço
e não falas por falarem-me
os teus olhos por ti.
segunda-feira, dezembro 29, 2008
sábado, dezembro 27, 2008
Pensamentos ociosos
sexta-feira, dezembro 26, 2008
"Carregado de vento"
Com a devida vénia transcrevo (de autora de quem muito gosto)
Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro
onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor
Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o frio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passo
que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa
e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.
Maria do Rosário Pedreira
Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro
onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor
Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o frio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passo
que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa
e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.
Maria do Rosário Pedreira
in
"O canto do vento nos ciprestes"
"O canto do vento nos ciprestes"
quarta-feira, dezembro 24, 2008
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Balanço
"[...] O tempo endurece qualquer armadura
E às vezes custa arrancar
Muralhas erguidas à volta do peito
Que não deixam partir nem deixam chegar [...]"
E às vezes custa arrancar
Muralhas erguidas à volta do peito
Que não deixam partir nem deixam chegar [...]"
"[...]Enquanto espero percorro os sinais
Do que fomos que ainda resiste
As marcas deixadas na alma e na pele
Do que foi feliz e do que foi triste[...]"
Mafalda Veiga
domingo, dezembro 14, 2008
quinta-feira, dezembro 11, 2008
sexta-feira, dezembro 05, 2008
And they all had wings
É tão difícil ver uma criança crescer,
perceber que, enfim,
agora os seus dedos não são já tão pequenos
que te caibam na mão como dantes,
que o que tens a ensinar-lhe
é cada vez menos e a protecção
cada vez mais frágil.
E no entanto os seus olhos
são ainda os mesmos,
a olhar-te como se te lessem,
mesmo que a sua voz mais profunda
os olhos continuam lá,
trazidos do fundo da tua memória,
marcas de água, silêncios partilhados.
E tu?
Guardar-me-ás dentro do peito
como eu te guardei no colo?
Quanto mudou afinal?
Seremos sempre os mesmos?
E o Amor, terá ele as mesmas letras
e a mesma dificuldade em se articular?
perceber que, enfim,
agora os seus dedos não são já tão pequenos
que te caibam na mão como dantes,
que o que tens a ensinar-lhe
é cada vez menos e a protecção
cada vez mais frágil.
E no entanto os seus olhos
são ainda os mesmos,
a olhar-te como se te lessem,
mesmo que a sua voz mais profunda
os olhos continuam lá,
trazidos do fundo da tua memória,
marcas de água, silêncios partilhados.
E tu?
Guardar-me-ás dentro do peito
como eu te guardei no colo?
Quanto mudou afinal?
Seremos sempre os mesmos?
E o Amor, terá ele as mesmas letras
e a mesma dificuldade em se articular?
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