quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Certos céus que não tive



My funny valentine


Vem a minha casa.
Ouvirás canções
que nos prometem a certos céus que não tive.

Alargarás os braços e abraçar-me-ás.
Uma asa, a que és afinal, golpeará a ordem do mundo
essa ordem de celofane que repudiámos.

E para lá do vidro, a dor apagar-se-á,
e juntos assistiremos
ao seu irado crepúsculo.

Domínios no escuro, dir-me-ás.
Sim, estamos cegos, dir-te-ei,
isto é, arrebatados, transportados

para o temível lugar onde a exasperação
é de outros, e a tristeza põe o rabo entre as pernas
e foge, e tropeça, e cai

em direcção ao ígneo centro.
Mas nada disto tem o sentido que se presume existir
(fátua ontologia)
em magias menores, alumbramentos e metamorfoses,

actos rituais e fogos de artifício nos longes da alma.
Tu estás somente dedicada
ao próximo alinhamento de canções

que nos prometem a certos céus que não tive.
Comprei hoje o Johnny Hartmann.
Vem ouvi-lo a minha casa, my funny valentine.

Luís Quintais


Belo Poema de Luís Quintais, consta do seu novo “Canto Onde” – muito recomendável, belíssimo livro.
Hoje apeteceu-me este, a dizer com o dia…, para acompanhar com música e a lembrar “certos céus que não tive”

1 comentário:

Folha|em|Branco disse...

Livro esse devorado numa tarde de praia dos ingleses...