My funny valentine
Vem a minha casa.
Ouvirás canções
que nos prometem a certos céus que não tive.
Alargarás os braços e abraçar-me-ás.
Uma asa, a que és afinal, golpeará a ordem do mundo
essa ordem de celofane que repudiámos.
E para lá do vidro, a dor apagar-se-á,
e juntos assistiremos
ao seu irado crepúsculo.
Domínios no escuro, dir-me-ás.
Sim, estamos cegos, dir-te-ei,
isto é, arrebatados, transportados
para o temível lugar onde a exasperação
é de outros, e a tristeza põe o rabo entre as pernas
e foge, e tropeça, e cai
em direcção ao ígneo centro.
Mas nada disto tem o sentido que se presume existir
(fátua ontologia)
em magias menores, alumbramentos e metamorfoses,
actos rituais e fogos de artifício nos longes da alma.
Tu estás somente dedicada
ao próximo alinhamento de canções
que nos prometem a certos céus que não tive.
Comprei hoje o Johnny Hartmann.
Vem ouvi-lo a minha casa, my funny valentine.
Luís Quintais
Belo Poema de Luís Quintais, consta do seu novo “Canto Onde” – muito recomendável, belíssimo livro.
Hoje apeteceu-me este, a dizer com o dia…, para acompanhar com música e a lembrar “certos céus que não tive”