Reabro esta crónica de segunda,
como habitualmente, à mesa do café de sempre, onde tento encontrar o meu lugar.
Quando nos afastamos dos sítios
de sempre, seja por força da actividade profissional ou por outro acaso
qualquer, porque mudamos de terra, de horários ou apenas de hábitos, mesmo
quando é temporário e o tempo nem é assim tanto – como quando vamos de férias e
depois regressamos – ao tornamos ao
lugar de antes, temos sempre de reencontrar o espaço que é nosso.
O mesmo com as relações entre as
pessoas, as pessoas que passam na nossa vida e, de repente, se afastam ou nos
afastamos nós, se nos voltamos a reencontrar, seja em condições idênticas às de
antes ou noutras diversas e talvez menos
esperadas – uma chamada telefónica, um encontro inesperado ao virar da
esquina – de novo temos de nos reposicionar e perceber que o lugar que antes
tínhamos pode já não ser o que agora nos compete.
Mutatis mutandi a vida não espera cristalizada as nossas mudanças
de humor, se adormecemos, ao acordar, o mundo já não é bem o mesmo.
Vem tudo isto a propósito dos
lugares, da importância do espaço, o real e o ilusório, o orgânico e o virtual,
para o nosso equilíbrio interior.
Quando tornamos ao de sempre, a
chamada rentrée, à francesa, voltamos com a boa disposição dos augúrios para o
futuro, esperamos sempre que a rentrée seja um ponto de partida para algo
melhor, mais vasto, mais além.
Assim sou eu, no meu café,
escrevendo, auspiciando leitores novos, melhores poemas, melhores ideias e crónicas.
Antevendo, porém, o Outono e com ele as folhas desalojadas das árvores, como às
vezes nos regressos nos achamos desalojados do lugar que tínhamos como nosso.
Que lugar nos restará agora? Que
braços ainda nos abraçarão quando tornarmos? Onde foi que nos perdemos?
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