Gosto de palavras e, o que é pior, suponho que elas gostam de mim. Há reciprocidade neste querer mútuo. Elas perseguem-me, bem as sinto a invadirem-me e eu, apanhando-as, reduzo-as à sua insignificância de serem apenas palavras, símbolos, dobro-as até me servirem e se isso não acontecer livro-me delas. Embora às vezes elas me persigam, nem me sempre me deixam a rédea solta.
Vem tudo isto a propósito de uma dessas palavrinhas que subitamente me assaltou, desta feita em Inglês, língua com a qual me imiscuí (vejam como é bela esta palavra, tão cheia de si, de intimidade, quase obscena – imiscuir!) pelos nove anos, coisa incomum à época e com a qual, além de simpatizar, tenho a familiaridade suficiente para que também na língua de Shakespeare (que de sua língua, aquela que ele falava e escrevia, é tão similar como o Português de hoje é com o de Camões ou de Gil Vicente) para que também em Inglês me sinta periodicamente perseguida por uma ou outra palavra.
“Turmoil” foi o termo que ficou a percutir-me a moleirinha, sabendo eu das suas inúmeras traduções, aquela que mais se assemelhava à palavra original na sua dicção e musicalidade, sem lhe tirar o sentido, seria tumulto. Não sendo, como disse, a única tradução possível, tumulto é uma bela palavra, com uma forte ideia de revolução, de convulsão, de redemoinho, tudo o que afinal a original continha apenas com um pouco mais de onomatopeia como é mais frequente nas palavras inglesas. “Turmoil” faz-me lembrar um redemoinho, como “Whirlpool” que quer também dizer isso mesmo.
E fiquei então digressando sobre isso dentro de mim e transformando “Turmoil”, tumulto, numa outra palavra que podia também servir de tradução - torvelinho, palavra tão bela, tão cheia de curvas e retorcidos que parece ela mesmo um caracol, um tumulto, um “turmoil”.
Assim, meus amigos, estimados e pacientes leitores, encho eu uma crónica enovelada com o tumulto, o torvelinho que esta palavra deu dentro de mim. Podia antes ter-vos falado do tumulto interior que me levou a ser assaltada pelo “turmoil” mas nunca gostei de diários pessoais transformados em crónicas, ou poemas ou mesmo romances. Por isso aqui fica esta tumultuosa crónica toda em torno das palavras (reparem na aliteração “toda em torno”, faltou dizer “toda em torno de um só termo” .
Despeço-me, com amizade, até que outra tumultuosa ideia me desate um torvelinho de palavras.
segunda-feira, abril 09, 2012
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