segunda-feira, março 05, 2012

Crónica de Segunda - Para sempre.

“Nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

As palavras são de Miguel Sousa Tavares e creio que foram escritas a propósito do falecimento de Sophia, sua Mãe. A mim chegaram-me pela mão da minha amiga Susana, no meu aniversário há cerca de 3 anos, inscritas no verso da belíssima fotografia, de sua autoria, que ilustra a crónica, onde juntou palavras suas com os votos habituais e onde acrescentava que tinha gostado muito de me conhecer e esperando poder contar ainda com a minha companhia. Ofereceu-me, nessa altura, um livro que conjugava três afectos que tínhamos em comum, a fotografia, a poesia e o silêncio. Lembrou-se ela que eu gostaria de receber tal prenda pelo aniversário e acertou, claro. Era assim a Susana, generosa, sensível e discreta. É assim que tem de ser, a sensibilidade não é coisa que se atire ao nariz dos outros como cartão de visita de primeira amostra. A sensibilidade é, também ela, uma coisa discreta que se sente no convívio, quando conseguimos na nossa vida insana parar para saírmos de nós e sentirmos o outro, o que é coisa rara nos dias que correm.
Trabalhámos juntas talvez um ano, e foi bom, não sei se te cheguei a dizer, Susana. Não me lembro se te disse, talvez não tenha dito – sou tão má nessa coisa de dizer sentimentos – que também eu gostei de te conhecer, de trabalhar contigo, de partilhar noites de sono, suor e inquietações e riso e pândega e piadas parvas e poemas e fotografias e silêncios e cansaço. Não me lembro se te disse que não me custou nada, nem quando tentava adormecer pela madrugada a ouvir-te nas teclas do computador click, clack, click, clack, como um relógio que fosse queimando o tempo que ainda nos restava. O que custa é agora, saber que não vais estar mais lá para captar estas águas barrentas de Douro, o barco à deriva perdido que podia muito bem ser eu e afinal eras tu. É isso que custa, é isso que dói. E saber que as palavras são frouxas, dizem tão pouco e servem para rigorosamente nada. E saber que a vida é injusta. Mesmo quando somos nós que encontramos o caminho do fim, não é menos injusta por isso. Espero que onde quer que estejas tenhas encontrado uma qualquer luz que te faltava, nós por cá não te esqueceremos. Na memória tudo pode ser nosso para sempre.
Até sempre, Amiga.

1 comentário:

Natacha disse...

Sem palavras .....
Beijinho meigo

Natacha