quarta-feira, setembro 23, 2009

Momento de pausa para reflexão de âmbito pessoal

Regressei de um curto retiro espiritual. Não escolhi um lugar isolado, apenas um de moderada calma e suficientemente longe do meu habitat natural para me sentir retirada.
A busca da paz e de um eu mais interior tem-se mostrado um percurso longo, num trajecto nem sempre fácil, com obstáculos vários a transpôr. Acontece que me vejo assim enleada nos mais curiosos, abastractos, diria até abstrusos, pensamentos sobre as mais variadas coisas, vai daí foge-me a mão e desato a escrever pessoalidades tão desinteressantes como esta no blog que faz de conta que é poesia (coitado).

Durante o meu retiro não deixei de ler o jornal diário para me ligar ao mundo, apenas deixei de ver televisão, não deixei de ler os mails que me enviavam apenas não respondi a nenhum e nada mais consultei na net, também da mesma forma não deixei de atender telefonemas mas deixei de os fazer, foi uma forma diferente de olhar o mundo ainda que com os mesmos olhos, foi como fugir dele estando apenas noutro lugar.

No regresso tentei a pacificação e o reencontro com a minha cidade, tarefa difícil nestes oito anos de desalento na sua "desgovernação", a ver se agora a coisa muda (sim, eu ainda tenho esperança), descubro depois que na minha ausência algumas coisa mudaram, por exemplo a FNAC de Stª Catarina mudou o aspecto e os locais de algumas coisas - o que é sempre difícil para mim já que devo ter uma ou duas costelas de obsessiva.

E ao sentar-me ao café descubro ainda que o Amor (coisa de letra graúda, não confundir com paixonetas adolescentes de Verão ou coisas assim, digamos que é aquilo que alguns sentem pelo cão, pelo gato, geralmente pelo Pai, pela Mãe, pelos irmãos, isto só para que se perceba a ideia da maiuscularidade da letra, refiro-me pois a Amor) é provavelmente o mais intenso e cruel acto irreflectido. Dá-se esperando (ah o Roland Barthes é que explica isto tão bem!) receber, sem se esperar receber, como quem dá agora sem querer nada em troca, não agora mas mais adiante. E no entanto, tantas e tantas vezes espera gorada, não há nada em troca só o vazio e o vazio no Amor dói, dói, dói. Tanto como uma bofetada ou um murro enfiado na boca do estômago. Porém, o Amor, o tal, o da letra maiúscula fica. É como os planos do Manoel de Oliveira: "fica, fica, fica." Não seria muito mais racional pô-lo de lado? Pois se a resposta é um vazio silêncioso, quando não um barulhento revés no que esperavamos como resposta ao nosso Amor, porquê insistir nele? Porquê continuar? Que marcha mazoquista é esta em que insistimos? É isso mesmo - o Amor - porque não é racional quando é Amor. Esqueçam lá a ideia de o domesticar. Lá dizia o poeta (O'Neil): "O amor é o amor - e depois? Vamos ficar os dois a imaginar, a imaginar?"

Desenganem-se os que amam, foram feitos para sofrer e - ó martírio - continuar a amar, a amar, a amar...

1 comentário:

SombrArredia disse...

Já dizia o MEC : O Amor é fodido