Como leitora sei bem da importância do título de um livro para despertar a atenção do leitor. Isso e as primeiras frases dos capítulos, sobretudo a primeira de todas, para leitores que, como eu, gostam de foçar nos livros que vão percorrendo nos escaparates, abrindo-os à toa quando o título desperta alguma luz.
Vem isto a propósito de as minhas penúltima e última crónicas terem deturpado títulos conhecidos de outros autores, sendo a última “Que farei quando tudo seca” obviamente derivada do belo título de Lobo Antunes “Que farei quando tudo arde”. Lobo Antunes é, aliás, exímio para espantosos títulos capazes de me porem a flutuar, sendo que na sua maioria a relação directa entre estes o assunto do livro é ténue ou inexistente. Foi precisamente ao tentar achar assunto para a crónica que me fiquei a pensar sobre estes assuntos e a relembrar quão belo é este título e um outro do mesmo autor “Não entres tão depressa nessa noite escura”. Qualquer um dos dois, títulos de romances, daria o de um belo poema, aliás, mais concretamente qualquer um dos dois títulos é em si mesmo um poema, atravessados que são de sentidos múltiplos a apelar ao sensitivo, a libertar a imaginação, a fazer-nos desagarrar do chão como convém a um poema. E dei por mim a emperrar de novo no primeiro “Que farei quando tudo arde?” A questionar-me interiormente sobre isso mesmo, o que fazer quando em nós uma estopa nos queima por dentro e nos ensandece, quando à volta tudo parece apagar os caminhos de regresso a nós, quando as labaredas nos impedem de partir e de chegar e subitamente nos achamos sós e sem rumo num labirinto de chamas e quando a cinza fica, depois, no lugar de tudo o que antes houvera. Latifúndios de antracite, um universo de vazio, de destroços, que farei quando nada sobra no rescaldo? E foi ainda a matutar nos títulos de Lobo Antunes que me lembrei de como termina o outro romance de cujo título aqui falei “Não entres tão depressa nessa noite escura”, prometendo que já chega e não me alongo sobre tudo quanto esta frase me faz laborar mentalmente, cito, embora de memória e com isso mais sujeita ao erro, a frase de encerramento desse romance, ela própria outro poema, Maria Clara, a personagem diz/pensa – “Há momentos na vida em que necessitamos tanto de um sorriso. À falta de melhor, toco-me com o dedo no vidro.”
Vem isto a propósito de as minhas penúltima e última crónicas terem deturpado títulos conhecidos de outros autores, sendo a última “Que farei quando tudo seca” obviamente derivada do belo título de Lobo Antunes “Que farei quando tudo arde”. Lobo Antunes é, aliás, exímio para espantosos títulos capazes de me porem a flutuar, sendo que na sua maioria a relação directa entre estes o assunto do livro é ténue ou inexistente. Foi precisamente ao tentar achar assunto para a crónica que me fiquei a pensar sobre estes assuntos e a relembrar quão belo é este título e um outro do mesmo autor “Não entres tão depressa nessa noite escura”. Qualquer um dos dois, títulos de romances, daria o de um belo poema, aliás, mais concretamente qualquer um dos dois títulos é em si mesmo um poema, atravessados que são de sentidos múltiplos a apelar ao sensitivo, a libertar a imaginação, a fazer-nos desagarrar do chão como convém a um poema. E dei por mim a emperrar de novo no primeiro “Que farei quando tudo arde?” A questionar-me interiormente sobre isso mesmo, o que fazer quando em nós uma estopa nos queima por dentro e nos ensandece, quando à volta tudo parece apagar os caminhos de regresso a nós, quando as labaredas nos impedem de partir e de chegar e subitamente nos achamos sós e sem rumo num labirinto de chamas e quando a cinza fica, depois, no lugar de tudo o que antes houvera. Latifúndios de antracite, um universo de vazio, de destroços, que farei quando nada sobra no rescaldo? E foi ainda a matutar nos títulos de Lobo Antunes que me lembrei de como termina o outro romance de cujo título aqui falei “Não entres tão depressa nessa noite escura”, prometendo que já chega e não me alongo sobre tudo quanto esta frase me faz laborar mentalmente, cito, embora de memória e com isso mais sujeita ao erro, a frase de encerramento desse romance, ela própria outro poema, Maria Clara, a personagem diz/pensa – “Há momentos na vida em que necessitamos tanto de um sorriso. À falta de melhor, toco-me com o dedo no vidro.”