segunda-feira, julho 22, 2013

Crónica de Segunda - Rejubilações


Sentada no café olho através da montra e o Verão continua esta frouxa coisa, apagada, que se tem mostrado pelo Porto, à excepçãode duas ou três semanas de sol refulgente, mimetizando os trópicos, que nos apanharam de supetão logo no estrear da estação. Agora, apagadinhoe cinzentão, com a temperatura indecisa de uma Primavera mal nascida, deixa-nos mordendo os dias à espera de férias na ilusão que rumando a sul as coisas se recomponham. Num assomo rápido aos títulos dos jornais percebo que o mundo não parece em consonância com a tez gris com que a meteorologia nos brinda, nem com a minha própria tendência depressiva face à folha sem palavras onde me aprazaria ver a crónica já escrita – e sobre o quê, meu Deus, sobre o quê? O mundo lá fora, dizia eu, rejubila!
 


Como se uma esplendorosa Primavera se esmagasse contra o vidro o mundo que leio nos jornais é uma só rejubilação. Os partidos do governo e seus apaniguados rejubilam por não caírem do poder, felizes de empurrarem com a barriga um programa de governo genial que felizes nos há-delevar ao segundo resgate, e ao terceiro e aos que mais vierem, tão certeiros eram os cálculos gasparinos que este se pôs a mexer apenas dois anos tarde de mais. Mas graças aos Senhor (aos senhores?) tudo muda para que tudo fique na mesma, as taxas de juros sobem e a dívida soberana também. Uma maioria, um presidente, um programa de sucesso, assim sim andamos em frente, o precipício aguarda-nos! Rejubilemos!
 

Em Inglaterra um casal de príncipes vai parir uma benfazeja criança, que a acreditar nos bruxos que por lá moram, há-de ser carismática e sensata – valha-nos ao menos isso já que a sensatez parece cada vez mais um bem escasso e em vias de extinção. Um povo inteiro, mais uns quantos mirones por todo o mundo aguardam que a coroável cabecita saia, rejubilante também, das entranhas da real mamã. Ainda mal gerada estava a criatura já o mundo se acotovelava para a fantasiar e noticiar, uma imigrante indiana – a quem interessa isso? – mal compreendendo que o mundo é um ninho de víboras mediáticas matou-se por falta de cautela, outros chamar-lhe-iam incompetência, ou dito de outro modo foi troçada até à morte por uns engraçados entertainers televisivos australianos – benditos sejam pelas audiências, rejubilemos!
Ainda nos jornais uma jovem norueguesa de 24 anos rejubila com o seu passaporte na mão por ter sido perdoada, no Dubai, do terrível crime de se deixar violar. Toda a ideia de uma pessoa ser violada, procurar a polícia para se queixar e acabar presa e acusada por esse mesmo facto me deixa rejubilante, mal posso com tanta alegria e jubilo!
Portanto talvez apenas eu, e o tempo lá fora, não rejubilemos com tanta alegria que vai pelo mundo mas ao olhar agora a página já cheia a cheirar a crónica completa quase me apetece também rejubilar!

segunda-feira, julho 01, 2013

Crónica de Segunda - Amar-te-ei em Julho


É Julho, dêmos-lhe as boas-vindas. Eu gosto de Julho. Julho é Verão, Julho é quente, em Julho acontecem coisas fantásticas – como ministros que se demitem deixando uma onda de risos e comédia em quase um país inteiro e um clima de pesada consternação em três ou quatro especialistas do partido. Em Julho também sobem a ministras senhoras conhecidas por lidarem com produtos económicos arriscados na sua toxicidade com nomes estrangeiros que querem dizer “trocas” e vai daí trocaram-nos, a ele por ela e a nós as voltas, mudando para tudo poder, da melhor maneira, ficar na mesma.

Mas Julho não é só isto, em Julho há calor, há férias, há praia, há cheiro a maresia entrecortado pelo cheiro de Eucalipto a arder e, de todas as coisas extraordinárias que acontecem em Julho, a mais pífia – também eu nasci em Julho, embora o acto do nascimento seja sempre uma coisa extraordinária.

Julho é, aliás, o meu mês favorito e, porque estas são escolhas que se fazem na infância, certamente que para isso contribuiu o facto de estar em férias escolares, coincidindo com os fins de ciclo, com o avançar de patamares académicos, no tempo em que o futuro era ainda uma porta aberta para quase qualquer infinito que me aprouvesse e, a ajudar à festa, ainda levava umas prendas catitas logo no dealbar do mês.

Agora os patamares são estreitos e nem sempre coincidentes com Julho ou as férias grandes, o futuro é um túnel onde já estou de viagem ainda que aqui e ali com bifurcações com cada vez menos a escolher; as prendas são poucas e em geral menos proveitosas, sendo já uma boa vitória quando não tenho de as empilhar no lote dos imprestáveis; envelhecer não tem graça, dizem que aos anos somámos experiência e sabedoria, até que é verdade, mas se olharmos bem, não é isso mesmo que nos faz mais infelizes? Pois se nos morrem as ilusões, próprias da juvenil inexperiência, que nos resta para nos fazer continuar?

Melhor ou pior, na conta dos dias, este Julho entrou bem, vem com calor, já lhe tinha saudades que anos últimos nisso do calor foram parcos, espécie de Verões arrependidos, a espreitar aos soluços, e a mim já me faltava um Verão como os antigos, de quando ainda tinha ilusões e menor número de Verões a festejar, um Julho acima dos trinta graus, um Julho de abrir janelas e sair pela fresca da noite à espreita de estrelas, e do zunir das cigarras, da janela aberta no carro, das esplanadas, das conversas ao relento pela leda madrugada, a espreitar a lua, das noites longas e do amor.

Sê bem-vindo Julho de calor, contigo até me vai custar menos continuar a envelhecer.